Ed. 15 - A arte salva
Olá, pessoas!
Sejam bem-vindas à 15ª edição de Uma mulher que escreve!
Quando tudo dá certo no meu planejamento, eu escrevo a news da semana seguinte nos sábados ou domingos. E quando dá errado, escrevo na segunda, terça ou quarta, quando dá tempo. A edição 13, por exemplo, foi escrita durante todo o dia de quarta-feira, nos intervalos do meu trabalho em que eu não tinha ninguém para atender. Normalmente, é na hora de escrever que as ideias vêm. Mas o assunto dessa edição foi decidido para mim na última quarta, (10/02) assim que eu deitei na minha cama para ler meu exemplar de Faça Boa Arte.
Alguns anos atrás, Neil Gaiman foi convidado para fazer um discurso durante a formatura de uma turma da University of the Arts na Filadélfia, EUA. Afirmando nunca ter imaginado que um dia cumpriria essa tarefa, Gaiman concentrou seu discurso em forma de conselhos que ele gostaria de ter recebido quando começou a escrever e a trabalhar como freelancer. O discurso foi transformado em livro no mesmo ano, em um projeto idealizado pelo designer gráfico estadunidense Chip Kidd, com o título de Make Good Art ou, em português, Faça Boa Arte.
Não me lembro bem como conheci esse livro, mas ele ficou bastante tempo na minha lista de desejados da Amazon, até que um dia consegui comprá-lo por um preço bem barato. Depois, ficou mais de um ano na minha estante até que decidi priorizar sua leitura. E os conselhos de Gaiman para os formandos estadunidenses me fizeram chorar. Muito. Como eu já disse, sou chorona.
Primeiro, por falar sobre como não sabemos o que estamos fazendo quando começamos a trabalhar com arte. Quando comecei a pegar folhas de papel A4 em casa, dobrar no meio, escrever e desenhar historinhas nelas e colocar uma dentro da outra para formar pequenos livros, quando era criança, eu não sabia. Quando escrevia fanfics de Harry Potter e Cavaleiros do Zodíaco, dos 14 aos 17 anos, eu também não sabia. Quando enviava textos para concursos literários, eu achava que sabia. Mas só fui tomar mais consciência do que era trabalhar com escrita nos últimos 3 ou 4 anos.
Segundo, pelo incentivo para fazermos o que queremos.
Terceiro, por lembrar do quanto fazer arte, às vezes, é solitário e frustrante. Nesse trecho, Gaiman diz que "a vida no mundo das artes, às vezes é como estar em uma ilha deserta espalhando mensagens em garrafas e esperando que alguém ache uma delas, abra e leia, e que ponha de volta na garrafa algo para você: um elogio, uma comissão, dinheiro, amor. E é preciso saber que para cada garrafa que porventura retorne, você terá produzido uma centena de outras.". Acho que ele não faz a menor ideia de como é ser uma escritora independente num país em que a média de leitura é de 4 livros por ano, mas o que ele disse é mais ou menos como eu me sinto tentando fazer com que minhas histórias sejam lidas.
Quarto, pelo conselho de evitar fazer coisas só por dinheiro. Muitas vezes eu já pensei em como a minha vida poderia ser melhor ou mais fácil se eu tivesse escolhido fazer outra graduação. Se tivesse escolhido fazer alguns dos cursos conhecidos por "dar dinheiro". Eu escolhi aquilo que aparentemente me faria feliz, e quando penso nas coisas que já fiz desde que me formei por um pouco de dinheiro, tenho certeza de que, em um futuro melhor, me darei o direito de recusar trabalhos ruins ou contrários ao que eu acredito.
Quinto, por me lembrar que a arte salva. Esse foi o meu trecho favorito do discurso, e reforça uma coisa na qual eu acredito muito. A arte me salvou quando eu era uma adolescente tímida que mudou de colégio várias vezes e detestava ter que fazer novos amigos de novo. A arte me salvou quando li um livro sobre bullying e suicídio, embora anos depois esse livro tenha sido adaptado para uma série de TV bem problemática. A arte me salvou quando comecei a graduação e tive que me adaptar a um ritmo de estudos bem mais intenso do que estava acostumada, mas prometi a mim mesma que não deixaria de ler. A arte me salvou no ano passado, quando os telejornais mostravam imagens dramáticas de pessoas morrendo em portas de hospitais sem encontrar vagas para atendimento durante uma pandemia. E a arte continua me salvando até hoje.
Li Faça Boa Arte duas vezes naquela noite. Primeiro, absorvendo o conteúdo, sentindo e chorando. Depois, pregando post-its em cada trecho que me emocionou. E só depois de algum tempo foi que consegui racionalizar melhor um dos motivos pelos quais esse livro me tocou tanto.
Quando estive na graduação, aprendendo técnicas de escrita jornalística, houve um tempo em que parei de escrever ficção. Eu não conseguia produzir mais nada além de artigos científicos, notícias, reportagens, roteiros de rádio e resenhas para o meu finado blog literário. Até que cursei uma disciplina sobre como jornalismo e literatura poderiam se unir, e então escrevi um livro que misturava as duas coisas.
Em 2019, não escrevi praticamente nada além de Mesmo que eu vá embora, porque estava angustiada demais com a necessidade de conseguir uma forma de ganhar dinheiro para pagar as contas. Mas em 2020, pouco depois de ter conseguido um emprego, voltei a escrever mesmo com isso me fazendo levantar da cama tonta de sono em algumas manhãs.
E acho que sei o que me faz continuar escrevendo. Quando não tenho ninguém para atender no trabalho, às vezes penso nos meus personagens e em como resolver alguma questões das minhas histórias. Eu tenho uma coisa para me comprometer além daquelas oito horas de expediente, e essa coisa significa muito mais do que o trabalho de pagar os boletos alheios, contar dinheiro e falar "Obrigada e volte sempre!". Eu tenho uma coisa que me orgulho de fazer. Uma coisa que me permite contar experiências de pessoas parecidas comigo e também de pessoas diferentes de mim e tocar outras pessoas com isso. Meus dias vão muito além de ficar sentada no meu caixa, atender clientes e esperar até as 18h para ir embora, porque eu faço planos sobre a próxima história para escrever e recebo mensagens lindas de quem leu as histórias que já publiquei. E no final, é isso que me deixa feliz, e é isso que me faz lembrar que atender gente apressada e mal-educada não define o meu valor, não diz quem eu sou e não determina minha capacidade, porque afinal, só estou ali para poder manter o trabalho que realmente importa pra mim.
No fim das contas, a arte me salva até mesmo de um trabalho estressante.
Decidi criar um bloco novo na news só para poder falar disso sem dizer o que é isso. Vocês que lutem com a curiosidade! Eu gosto muito de compartilhar os meus avanços com escrita, mas o motivo de não falar sobre o que é essa história é a insegurança. Eu tenho medo de ela não dar certo, de não conseguir terminar, ou de deixar que outras pessoas criem expectativas e acabar decepcionando mais alguém além de mim. Por isso, esse bloco vai existir enquanto eu achar que preciso dele.
Depois de dias revisando o conto de Natal, na quarta-feira acordei disposta a começar o romance que eu estava planejando em dezembro. Quem assina a news desde o início deve lembrar que já mencionei essa história. Eu tenho alguns capítulos planejados e sinto que só vou conseguir decidir o que acontece a partir da metade conforme for escrevendo o início. Por isso, a determinação para começar.
Comecei com uma cena um pouco avançada no planejamento, mas que ainda fazia parte do capítulo 1. Depois, a protagonista deveria relembrar o que aconteceu antes daquilo. No primeiro dia, fluiu bem, mas no seguindo, nem tanto. Na sexta-feira, abri um arquivo novo e decidi recomeçar o capítulo 1 seguido o tempo cronológico. Acho que está bem melhor agora. Quando chegar o momento da cena que escrevi no primeiro dia, vou copiar e colar ou adaptar. E as coisas estão assim. Espero ter mais novidades na semana que vem!
- Fiz, na sexta-feira, um reels dizendo o que pode te agradar em Mesmo que eu vá embora, caso você ainda não tenha lido. Assista aqui.
- Fiz a mesma coisa para Elas Falam Por Si. Assista aqui.
- Leia Faça Boa Arte. O discurso filmado pode ser encontrado no YouTube, mas infelizmente, a única versão integral com legendas em português não está muito boa.
Um abraço,
Lethycia
Para me acompanhar melhor, você pode me encontrar nos links abaixo:
Elas Falam Por Si
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