Ed. 22 - Escrever é uma defesa contra a solidão
Olá!
Estou há dois fins de semana tentando escrever este e-mail. Mesmo com várias obrigações para cumprir, eu tentava me lembrar de por que isso era importante. Porque eu me sinto confortável nesse espaço. Porque eu me comprometi a isso. E porque, por algum motivo, cerca de 70 pessoas estão interessadas em ler o que eu escrevo aqui. Se você assinou Uma mulher que escreve recentemente, seja bem-vinde. Estamos na 22ª edição.
Como eu disse na edição passada, aconteceram algumas coisas que me fizeram repensar a frequência da newsletter. Agradeço a quem respondeu ao questionário que deixei para vocês, e com base nos votos e na minha própria rotina, decidi tentar manter a news quinzenal. Isso quer dizer que, a partir de agora, os e-mails serão enviados em semanas alternadas. O dia dos envios é nas quartas-feiras, mas atrasei a edição um pouco mais por causa de uma novidade muito boa que vocês vão conferir mais abaixo. Segurem a curiosidade!
Espero conseguir reorganizar minhas tarefas para que tudo se encaixe no meu tempo agora curto.
Estou tentando seguir o conselho da loirinha:
"Você precisa se acalmar".
Mas a vida parece não concordar com esse ponto de vista.
No fim da tarde em que enviei a edição 21, fui informada por um post no Facebook sobre a morte de uma das minhas melhores amigas. Um simples post de duas linhas enviado na linha do tempo dela por uma parente distante, lamentando o fato de que "perdemos você para essa doença".
Eu sabia desde o início de abril que minha amiga estava internada com COVID-19, mas não sabia onde. Fazia algum tempo que estávamos afastadas e eu não tinha contato com ninguém da família dela. Nenhum dos irmãos mais velhos que nunca conheci. Nem o pai que, até onde sei, mora no interior. A última mensagem que enviei para ela pelo WhatsApp (um áudio desejando que ela se recuperasse e ficasse bem) nunca ficou azul. Já fazia dias que eu pensava em procurar alguma forma de saber sobre ela. Eu só não esperava saber assim.
Foi a parente dela quem me confirmou a morte na madrugada do dia 11 de abril, apenas 3 dias depois de ela ter me enviado sua última mensagem. O parentesco que tinham era realmente pequeno, e ela sequer morava em Goiânia, mas sim no interior de Goiás, então não sabia nem mesmo o cemitério em que minha amiga foi enterrada.
Eu choro quando penso em como a vida nos afastou. Choro quando lembro que na última vez que nos vimos, por acaso dentro de um ônibus em janeiro de 2020, ela estava feliz porque ia começar um novo emprego. Choro quando lembro que tentamos nos encontrar pessoalmente em março, e que a pandemia tornou isso impossível. Choro quando lembro que ela morreu de uma doença para a qual existe vacina. E também quando lembro que este mês, Goiânia começou a vacinar pessoas com comorbidades, e que a vez da minha amiga, que era diabética, poderia chegar logo.
É claro que essa situação toda afetou a minha escrita. Escrevi menos nos últimos dias, tanto em ritmo quanto em número de palavras. Houve dias em que eu me permiti simplesmente nem tentar e só ficar na cama até a hora de me arrumar para o trabalho.
Acontece que ter perdido a minha amiga me fez lembrar de um projeto de romance que eu pensava em escrever no futuro sobre Amigas do Ensino Médio Afastadas Pela Vida Adulta. Qualquer semelhança com a realidade seria mera coincidência. O problema é perceber que pareço estar vivendo o final triste dessa história. E pensar nisso me fez questionar o motivo pelo qual escrevo.
Anos atrás, quando alguém me perguntava por que eu escrevia, eu respondia "Porque gosto". Mas essa resposta sempre parecia vazia. Sem significado. Com o passar do tempo, e principalmente depois que descobri o tipo de história que desejo escrever, passei a entender que eu quero, com a minha escrita, fazer com que outras pessoas saibam que não estão sozinhas. Alguns dos livros que mais me emocionaram fizeram isso comigo, e é o que eu desejo fazer com meus leitores. E eu espero que ninguém mais sinta o tipo de solidão que estou sentindo agora.
Continuo escrevendo o terceiro capítulo da história, iniciando os conflitos da Protagonista 1. Tive que escrever uma conversa em um grupo de WhatsApp, e isso deu um trabalhinho que preencheu a minha hora de escrita daquele dia quase inteira. Também escrevi sobre uma empresa postando uma babaquice na internet, e fiquei admirada com o resultado porque pareceu genuinamente babaca.
Na sequência de acontecimentos, fiz os chefes da minha protagonista ignorarem funcionários com conhecimento técnico e tomarem uma decisão idiota com base apenas na própria vontade. A minha protagonista tenta avisar que vai dar merda, mas é ignorada. É horrível, mas está sendo muito divertido de escrever. Nem parece que já trabalhei em um lugar assim.
- A segunda autora dos Espectros de Roxo e Cinza, revelada oficialmente pelo Cadê LGBT, é Maria Freitas, a própria inspiradora do projeto!
(Agora vem a novidade que prometi)
O conto da Maria está sendo lançado HOJE, e eu trouxe a capa para vocês:
O último robô do mundo, de Maria Freitas
Sombra tenta sobreviver em um mundo destruído e sem adultos. Depois de roubar algo dos Garotos, ela se esconde em um galpão protegido por um robô prestes a pifar. E, junto com ele, tenta encontrar um pouco de esperança para aquele mundo devastado.
Compre aqui.
- O Cadê LGBT anunciou recentemente a segunda edição do FliCADÊ, o Festival On-Line de Literatura LGBTQIAP+. Ano passado, acompanhei a primeira edição do evento e gostei muito. Este ano, o festival deve acontecer entre os dias 7 e 12 de junho. Saiba mais clicando aqui. Nesta edição, o festival está recebendo indicações de participantes, e você pode indicar pessoas para participar do evento clicando aqui.
- Postei no meu Instagram a tão esperada resenha de Escrever Ficção, o manual de escrita criativa de Assis Brasil. Você pode ler minha resenha nesse link e, caso se interesse pelo livro, comprar aqui.
- Camila Cerdeira, que escreveu o conto A Noite Cai, está precisando de um computador novo e criou uma vaquinha virtual para arrecadar o dinheiro necessário para isso. Assim como divulguei a vaquinha (bem-sucedida) da Lyli Lua, achei importante divulgar também essa, porque eu sei o perrengue que é ver seu instrumento de trabalho correndo o risco de não funcionar mais. Ajude Camila Cerdeira clicando aqui.
Encerro este e-mail agora.
Um abraço,
Lethycia
Para me acompanhar melhor, você pode me encontrar nos links abaixo:
Elas Falam Por Si
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