Ed. 23 - Um descompasso no meu coração
Olá!
Como foram essas três semanas para vocês? Vamos fazer de conta que não estou quebrando a periodicidade da news de novo.
Em primeiro lugar, quero agradecer pelas respostas e comentários a respeito da última edição. Foi muito difícil escrever o último e-mail, e as respostas que tive foram como abraços virtuais que eu precisava muito receber. Com isso, quero desejar que sejam bem-vindes à 23ª edição de Uma mulher que escreve.
Talvez por causa das respostas que vieram, ou talvez pelo tema em si do último e-mail, algumas daquelas palavras ainda não saíram da minha cabeça. Talvez porque a solidão seja uma coisa que sempre fez parte da minha vida. E nem sempre de forma ruim.
Eu sempre fui uma pessoa calada, que passa mais tempo observando e pensando do que falando. Alguém que demora a ficar à vontade em lugares novos e com pessoas novas. E que, quando começa a se sentir bem, ainda se mantém alerta.
Eu sempre passei muito tempo sozinha: ficando sozinha em casa, indo a lugares sem ter companhia, mudando várias vezes de colégio e perdendo o contato com antigos amigos ou vendo amizades próximas se desfazem aos poucos. Por ser uma pessoa introspectiva, não gostar de lugares muito cheios ou de muita agitação, esse estar sozinha muitas vezes me fez bem. Eu sabia lidar com isso, na maior parte do tempo. Mas há momentos em que não sei, e o que contei no e-mail anterior foi um desses momentos.
Como a solidão sempre esteve comigo, uma coisa de que gosto muito é de consumir arte que fale sobre ela. Filmes, livros, música. Alguns anos atrás, quando participava da produção de um programa semanal na rádio da universidade, cheguei até mesmo a realizar uma entrevista com uma psicóloga sobre o tema da solidão.
Enquanto produzia o meu roteiro com perguntas para fazer no dia, ao vivo, eu precisava escolher uma música para colocar para tocar em volume baixo no fundo. Em rádio, chamamos isso de background, ou simplesmente BG. Lembro de ter pesquisado "músicas sobre solidão" no Google, lido várias listas e percorrido muitas playlists no Spotify, encontrando uma série de canções estrangeiras que, quando eu pesquisava a tradução da letra, não pareciam dizer nada. Sabe quando procuramos muito por uma coisa e depois de horas e horas, percebemos que ela estava no lugar mais óbvio possível? Foi o que aconteceu com a minha escolha de música daquela semana. De repente me lembrei de uma música que cresci ouvindo nos CD's do meu pai, e que com palavras simples, dizia tudo.
Clique aqui para ouvir Solidão.
Alceu Valença parece ter sido redescoberto pelos jovens adultos que hoje em dia postam tweets exaltando a Belle de Jour, mas quando eu era criança, nem tanta gente parecia achar a música dele tão legal assim, e não tocava em nenhum outro lugar que eu frequentasse além do carro do meu pai. Eu me lembro de dormir no banco de trás e acordar voltando de algum lugar para casa, de noite, ouvindo tocar Solidão. Algumas das minhas melhores lembranças sobre música têm a ver com isso.
Eu já gostava de Solidão quando ainda nem entendia o que a canção quer dizer, mas hoje, acho que Alceu Valença foi certeiro na escolha de palavras. A solidão devora. O tempo passa devagar quando estamos sozinhos. As últimas semanas, para mim, parecem ter sido escritas, dirigidas e produzidas por ela. Com bastante descompasso no coração.
Estou falando disso porque, enquanto eu estava mal, encontrei palavras que me deram um pouco de conforto, e como sempre, isso aconteceu por meio da arte.
No mês passado, recebi meu exemplar de Arlindo, a web-comic de Ilustralu agora publicada em formato físico. Faz muito tempo que quando um livro novo chega aqui em casa, eu posto uma foto nos stories e dou um jeito de enfiar na estante, pra ler sabe-se lá quando. Com Arlindo foi diferente. Quando meu exemplar chegou, eu estava tentando engatar na leitura de um livro bem ruim e já pensando em abandonar; e foi o que fiz, para ler uma história que eu sabia que gostava e que me faria bem.
Eu já tinha acompanhado Arlindo pelo Twitter, vibrando e sentindo ansiedade a cada página, e reler foi uma experiência nova que me permitiu ver o quanto de afeto a autora colocou nessa história. Arlindo transborda afeto. E receber um pouco dele relendo essa história foi muito bom pra mim. Uma das frases mais conhecidas da HQ diz que "A gente não tá só", e eu acho mesmo que muita gente precisa que alguém lhe diga isso para não se deixar devorar.
Cartão-postal que recebi junto com meu exemplar pelo apoio no financiamento coletivo.
Terminei o terceiro capítulo e comecei a escrever o quarto. Estou com algumas dificuldades relacionadas ao tempo e ao ritmo da narrativa. É que os capítulos um e dois acontecem ao longo de vários dias, e o terceiro, dura apenas uma manhã. E para fazer com que a história não perca o ritmo, estou tentando fazer o capítulo quatro durar um dia também. No final dele, minhas protagonistas vão ter uma conversa sobre o dia difícil que tiveram, e essa conversa vai ser fundamental para que a história continue.
Tive alguns dias em que escrevi pouco e outros em que escrevi muito, em parte por causa dos problemas de tempo, em parte por ter ficado muito cansada da minha rotina.
Mas estou cada vez mais convencida de que preciso compartilhar essa história com alguém. Mais do que estou compartilhando por aqui. Eu nunca tive leitores beta antes, mas acredito que estou precisando de pelo menos uma pessoa que me diga como essa história está andando. Já recebi algumas ofertas de betagem, mas foram feitas por pessoas que não eram bem o meu público-alvo. Como esse é um serviço que envolve disposição para ajudar e confiança mútua, achei que aqui era um bom lugar para encontrar possíveis leitores-beta.
Se você tem interesse em ler o Projeto Misterioso enquanto estou escrevendo, fazer comentários e me dizer o que está achando, responda este e-mail. Você precisa:
Gostar de histórias para público jovem-adulto;
Gostar de histórias sobre encontrar o seu lugar no mundo;
Gostar de histórias com relacionamentos entre mulheres;
Manter tudo em segredo até o lançamento.
Diga também se você já fez leitura beta antes e como foi e cite três livros com pelo menos uma das características acima que você leu recentemente. Prometo ler e analisar as possíveis respostas com carinho.
Agora, se você está esperando por aquela listinha de recomendações...
Sinto muito, mas hoje não tenho nenhuma. Não terminei nenhum livro que possa comentar, não assisti a nenhum filme incrível, não ouvi nenhum episódio de podcast que não fosse sobre algum assunto extremamente nichado, não ouvi nenhuma nova playlist legal.
Mas tenho uma novidade maravilhosa: fui convidada para DOIS eventos online sobre literatura LGBTQIA+!
Se você me acompanha em alguma rede social, já deve saber que um desses eventos é o FliCADÊ, e eu JURO que não sabia que seria convidada nas vezes que panfletei o evento por aqui. Pois é, no dia 11 de junho, às 17h, estarei on-line na mesa Assexuais para a dominação mundial: esse espaço também nos pertence, junto com Dayane Borges, Eric Novello e G. G. Diniz, com mediação de May Mortari. A mesa será transmitida ao-vivo pelo canal do FliCADÊ no YouTube, e para quem não puder assistir na hora, vai ficar salva! Passa lá pra me ver e pra acompanhar a discussão, que promete ser incrível!
Um abraço e até a próxima,
Lethycia
Para me acompanhar melhor, você pode me encontrar nos links abaixo:
Elas Falam Por Si
Twitter | Instagram | Wattpad | Medium | Amazon