Ed. 24 - Sobre Orgulho
Olá, pessoas!
Sejam bem-vindas à Edição 24 de Uma mulher que escreve! Eu comecei a pensar no assunto dessa edição no mesmo dia em que enviei a nº 23. É que uma coisa especial aconteceu, e eu achei que não poderia deixar de fazer uma news inteirinha focada em Orgulho LGBTQIAP+. Principalmente no meu orgulho.
Eu sou uma mulher negra, bissexual e demissexual. Passei boa parte da minha vida acreditando que era hétero, porque cresci em um ambiente extremamente heteronormativo e fui ensinada que só isso era "normal". Entrei na Universidade, passei a ter contato com pessoas muito diferentes de mim e pensamentos muito diferentes dos meus e a aprender muito sobre diversidade, e entendi que pessoas LGBTQIAP+ estão em todos os lugares e que não há nada de errado com isso.
Mas a partir do momento em que me entendi bissexual (a essa altura, eu já sabia que era demi), eu passei a conviver com medos que até então não conhecia. Medo de beijar uma menina em público e ser ofendida, atacada, agredida. Medo de falar na internet sobre ser bi e ser invalidada, porque, afinal, eu não tinha dado check em todos os itens que as pessoas acham que bissexuais precisam cumprir. Medo de falar sobre isso com a minha família. Medo de não ser mais bem-vinda no almoço de Natal e nos aniversários dos meus primos. Medo de ouvir perguntas indiscretas. Medo de ser humilhada, desprezada, expulsa de casa, rejeitada, abandonada.
Eu vivi quase 3 três anos com esse medo. Eu assisti filmes LGBT trancada no quarto, por medo de minha mãe fazer alguma pergunta. Eu parei de corrigir as falas preconceituosas da minha família, porque não podia mais dizer que "era hétero mas apoiava a causa". Parei de compartilhar certos tipos de postagem nas redes sociais. Tinha pânico quando era marcada em posts no Instagram indicando escritores bissexuais, porque se alguém da minha família visse aquilo... E era horrível. Até o meu trabalho com criação de conteúdo e a divulgação da minha escrita foram afetadas: em junho do ano passado, por exemplo, eu fiz um post no Instagram agradecendo aos escritores de livros LGBT, porque as histórias deles fazem com que outras pessoas se sintam menos sozinhas... Mas não tive coragem de dizer que faziam com eu me sentisse menos sozinha.
Eu não queria me assumir, porque tinha medo de todas as violências que pessoas LGBTQIAP+ sofrem. Eu me sentia protegida dentro do "armário". Lá dentro, eu ficava livre para poder ler meus livros e sonhar com um mundo melhor para pessoas como eu enquanto ignorava o mundo horrível do lado de fora. E, estando solteira há mais de 4 anos, eu achava que poderia continuar me escondendo enquanto não passasse a me relacionar com uma pessoa do mesmo gênero que o meu. Por que lidar com essa coisa tão complicada que era me assumir, se eu sempre podia deixar para depois?
Mas a vida não obedece os nossos planos e nem a nossa comodidade. No dia 3 de junho, meu irmão me surpreendeu se assumindo bissexual para mim, e, muito feliz e surpresa, respondi "Você também?", o que não me deixou outra saída a não ser me assumir para ele. Ele me disse que nossa mãe sabia sobre ele, e que contar para ela tinha sido "de boa". Isso me fez pensar muito. E, dois dias depois, eu passei mais de uma hora com minha mãe no telefone até ter coragem de tocar no assunto. Eu chorei muito. E ela me disse que minha sexualidade não muda em nada o amor dela por mim, assim como não mudou com o meu irmão. E desde então, eu sinto que um peso enorme foi tirado de cima das minhas costas. Tantas pessoas LGBT sofrem com suas famílias, e ser aceita desse jeito foi a coisa mais incrível que eu podia imaginar.
Naquela noite, eu postei essa foto nas redes sociais e dormi vestindo essa camiseta que estava escondida no meu guarda-roupa há quase três anos:
Meus outros parentes ainda não sabem sobre mim, e eu sei que alguns deles não vão me respeitar. E eu sei que o mundo está cheio de pessoas que nos odeiam, e que elas são cruéis. Ser aceita pela minha mãe não muda nada disso. Mas é muito, muito melhor do que continuar mentindo e me escondendo.
Escrevi tudo isso para dizer que a gente tem que ter orgulho sim! Orgulho de ser quem e como somos. Orgulho de estarmos escrevendo e lendo nossas histórias em um mundo que ainda diz que não temos o direito de existir. E, mais uma vez, eu quero agradecer a todos os escritores de livros LGBTQIAP+ por terem colocado suas histórias no mundo, porque, enquanto eu me escondia, elas me davam conforto e esperança.
Sigo escrevendo a minha história de meninas se amando, agora ainda mais consciente do quanto ela é necessária. Consegui escrever a conversa importante entre as minhas protagonistas e terminar o capítulo 4. Já comecei o quinto capítulo, trazendo as consequências de uma decisão ruim tomada por uma empresa de comunicação.
Recebi apenas uma resposta no meu chamado de leitura-beta, e quero dizer que se você ficou com vontade de se oferecer para betagem mas teve vergonha ou receio, por favor, não tenha medo! Pode responder a esse e-mail. Assim como falei na news anterior, você só precisa:
Gostar de histórias para público jovem-adulto;
Gostar de histórias sobre encontrar o seu lugar no mundo;
Gostar de histórias com relacionamentos entre mulheres;
Manter tudo em segredo até o lançamento.
Diga também se você já fez leitura beta antes e como foi e cite três livros com pelo menos uma das características acima que você leu recentemente.
- A mesa sobre assexualidade no FliCADÊ foi LINDA e eu amei ter participado! Se você não pôde assistir ao-vivo, saiba que o vídeo está salvo no canal do FliCADÊ e que você pode ver quando quiser. Assista, também às outras mesas, porque todas foram muito boas!
- Escrevi uma carta para as pessoas LGBT não assumidas, com algumas reflexões que tive sobre ter me assumido em pleno Mês do Orgulho. Está publicado no meu Medium, que é um espaço onde me sinto à vontade para postar textos que surgem ocasionalmente como esse. Leia de graça aqui.
- Os Clichês em Rosa, Roxo e Azul, da Maria Freitas, voltaram a ser vendidos na loja do Se Liga Editorial. Se você perdeu a pré-venda e quer ter 3 livros físicos com as cores da bandeira bissexual, aproveite para comprar aqui!
Imagem de divulgação dos Clichês em Rosa, Roxo e Azul.
- A escritora Lívia Ferreira está com um novo livro em pré-venda pelo Se Liga Editorial. "Passos de Liberdade" é um romance com protagonismo lésbico e negro, com brindes incluídos de acordo com a quantidade de exemplares vendidos. Reserve o seu até 12 de julho.
Capa de "Passos de Liberdade", de Lívia Ferreira.
Espero que tenham gostado dessa edição e das recomendações que eu trouxe dessa vez. Fico por aqui.
Um abraço,
Lethycia
Elas Falam Por Si
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