Medo de pôr do sol - Uma mulher que escreve #43
A melhor demissão da história, um acidente numa cachoeira, a oportunidade de milhões e a morte de minha escritora brasileira favorita.
Por Lethycia Dias | Edição 43
Medo de pôr do sol - Uma mulher que escreve #43
Olá, pessoas que leem! Estou enviando esta edição com uma semana de atraso, mas por um bom motivo. Na semana passada, eu estava correndo para adaptar minha rotina a um novo trabalho - pois é, mal saí de um e já entrei em outro. Falaremos mais disso daqui a pouco. Por enquanto, sejam bem-vindes à edição nº 43 de Uma mulher que escreve!
Recadinho: se você, por acaso, assina minha newsletter, mas não tem recebido meus e-mails e só está lendo esta edição porque encontrou o link nas redes sociais, talvez a news esteja indo parar na caixa de spam do seu e-mail. Já deu uma olhada por lá? O número de leituras da news diminuiu bastante desde que mudei de plataforma, e desconfio que muitas pessoas podem nem ter percebido que estão recebendo as edições. Caso isso a news tenha ido parar no seu spam, abra qualquer um dos e-mails e clique em "não é spam" para que as próximas edições voltem a chegar na caixa de entrada.
Tem coisa que é livramento
Enviei a edição passada no meu primeiro dia sem trabalho. O texto tinha sido escrito no dia 15 de março (terça-feira) e enviado no dia 16 (quarta), mas como tinha um tema específico e já bem fechado, não dava para me estender mais atualizando as informações, então só falei de forma bem breve que tinha saído do meu emprego como operadora de caixa. É verdade: fui demitida. E nunca fiquei tão feliz com isso.
Fora o fato de que estava sendo explorada, sentindo exaustão física e mental, tendo crises de ansiedade, palpitação e tremores nas mãos por não aguentar mais ser desrespeitada o tempo todo, eu tive outro motivo maior e mais sério para querer sair de lá. E por ser uma coisa séria mesmo, não posso explicar, mas acreditem: ter saído de lá foi um livramento.
Voltei pra casa feliz da vida. Fiz tweets comemorando. Desativei todos os alarmes do meu celular e também comemorei. Aproveitei os dias seguintes assistindo aos filmes e séries que eu não tinha tempo para ver trabalhando oito horas por dia. E, pela primeira vez em um mês, tive uma noite de sono em que consegui realmente descansar.
E não estou preocupada com a nova situação. Pelo menos, não por enquanto. Tenho alguns meses de seguro-desemprego que me permitem certa tranquilidade, e claro, meu trabalho novo também vai ajudar muito.
Como a vida não é só festa, também aproveitei o tempo livre para estudar mais. Retomei uma rotina de estudos que tinha criado durante as minhas férias e que só quem não trabalha fora de casa pode ter. Me inscrevi também em oficinas e workshops de escrita rápidos, porque também quero aproveitar os próximos meses para escrever mais. E foi isso que fiz por mais ou menos dez dias: descansei, comemorei, assisti a filmes e séries, estudei. Fui feliz.
Um pequeno acidente
No dia 20 de março (domingo) fui com minha mãe em um passeio que compramos para uma das várias cachoeiras próximas à cidade de Pirenópolis, no interior de Goiás. Tinha tudo pra ser um dia perfeito, se eu não fosse a personagem desastrada de um filme de comédia. Consegui escorregar enquanto andava no chão seco, e nesse escorregão, acertei o pé direito numa pedra, machucando o quarto dedo. Ficou inchado na hora e passou alguns dias roxo. Ainda dói e eu ainda manco de vez em quando. Não consigo usar meias nem sapatos, e ainda bem que não saio mais de casa. Mas rendeu ótimas fotos:
A oportunidade que nunca tive
No dia 23 de março, recebi um e-mail. Não um e-mail qualquer, do tipo que eu estava acostumada a receber. Não era uma propaganda daqueles sites que você precisa pagar pra ver vagas de emprego que nem são tão boas assim. Não era um convite para uma entrevista de emprego dali a meia hora, em um lugar da cidade que eu levaria duas horas para chegar de ônibus. Não era uma tentativa de golpe nem uma vaga arrumbada. Era uma oportunidade. Das boas.
Sabem os filmes dos anos 2000, quando a mocinha descobre que finalmente vai poder realizar seu sonho? É assim que eu posso descrever como fiquei quando descobri do que se tratava. Tentei disfarçar enquanto conversava com a pessoa responsável, e depois, só não saí correndo e gritando pela casa porque minha mãe estava no quarto dela descansando depois ter trabalhado durante a noite anterior. Ainda dá vontade de soltar gritinhos quando eu lembro.
É um freela e vai durar só alguns meses, e é uma coisa que exige confidencialidade, então eu também não posso falar muito sobre o que estou fazendo. Mas desde segunda-feira passada (28), estou trabalhando de casa, ao mesmo tempo em que estudo e assisto filmes e séries e tento voltar a escrever. E estou muito feliz com isso!
E adivinhem: eu não poderia aceitar esse trabalho se não tivesse saído daquele outro em que permaneci por tanto tempo só pelo medo do desemprego.
A morte de Lygia
Eu não estava pensando em enviar a news esta semana. Pretendia deixar para a próxima, já que estava atrasada mesmo. Mas, quando vi surgir na timeline um tweet lamentando a morte então recém-anunciada de Lygia Fagundes Telles, eu percebi que precisava escrever sobre ela.
Conheci Lygia Fagundes Telles graças às bibliotecas dos colégios em que estudei no Ensino Fundamental e Médio. Não sei dizer qual de seus livros li primeiro - até porque, seus contos são publicados em diferentes coletâneas que, por vezes, se repetem.
Mas lembro da primeira história dela que me marcou. Devo ter lido Pomba Enamorada ou Uma história de amor aos 12 ou 13 anos, e lembro de ter ficado impressionada com essa história porque é narrada em um só parágrafo. Não um parágrafo pequeno, mas um bloco de texto enorme, que se estende por várias páginas, contando a história de Pomba Enamorada de uma vez só.
E Lygia entraria para sempre no meu coração quando li Ciranda de Pedra no ensino médio e me identifiquei de forma muito forte com Virgínia. De lá até aqui, li vários livros de contos de Lygia e outros de seus romances, reli Ciranda de Pedra aos 21 anos e continuei a me identificar com Virgínia.
A essa altura, Lygia já tinha se tornado minha escritora brasileira favorita. A forma como ela descreve os sentimentos mais íntimos e as atitudes mais horríveis de seus personagens até hoje me encanta e me intriga. Como disse uma pessoa entre as muitas que comentaram sua morte, Lygia conseguia fazer até o mais romântico dos convites parecer assustador.
Se você já leu o conto Venha ver o pôr do sol, deve ter entendido o significado desse trecho. Se não, então leia! Acho melhor não estragar a surpresa da história.
Por fim, encerro este bloco da news com meu próprio lamento.
Quer me ver na Flipop?
A Editora Seguinte ACABOU de liberar um formulário para indicação de autores e profissionais do livro na próxima edição de seu evento de literatura jovem! A Flipop 2022 está prevista para o segundo semestre, e se você quiser me ver lá, pode me indicar cliando aqui!
Li, Ouvi e Assisti
Nas últimas duas semanas, participei de dois cursos rápidos de escrita: um voltada para voz narrativa e outro focado em escrita de cenas de sexo. Ter passado várias horas imersa em discussões com outras pessoas que também escrevem me deixou super motivada para retomar minhas histórias interrompidas! Só preciso arrumar a bagunça que ficou a minha vida antes de começar minha (nova) rotina de escrita.
Assim que terminei minha maratona de filmes do Oscar, com mais ou menos 30 títulos, assisti ao comentadíssimo Red, da Pixar. Fiquei a maior parte do tempo com um sorriso no rosto e adorei aquelas quatro meninas sendo apenas meninas. Mas no final, fiquei com uma saudade muito específica: saudade da minha própria (pré) adolescência, quando eu via minhas amigas na escola todos os dias. Hoje, uma das minhas melhores amigas está morta e a outra está a meio continente de distância.
Estou quase terminando de ouvir os álbuns de Maria Bethânia no Spotify. Aposto que ela vai ser minha artista mais ouvida do ano. Não só passei semanas seguidas ouvindo os álbuns dela sistematicamente, como as músicas favoritadas passaram a tocar com mais frequência no modo aleatório. Mas existe razão pra isso: é uma das minhas artistas favoritas e ouvi-la é pura poesia - às vezes, literalmente. No álbum O Vento Lá Fora, ela e Cleonice Berardinelli passam quase uma hora recitando Fernando Pessoa.
Estou andando bem devagar com os livros, porque dois deles são releituras (A Cidade e As Serras e Gabriela Cravo e Canela) e um deles é um romance contemporâneo, mas não estou tendo o tempo que eu tinha no horário de almoço e nos momentos ociosos do meu antigo trabalho. Isso me ajudava um monte a avançar lendo e-books! Além disso, também estou lendo livros técnicos de Comunicação, para estudar para concursos.
Recomendações
Fiz minha própria homenagem a Lygia Fagundes Telles em formato de vídeo. Veja pelo reels ou tiktok.
O audioconto Nome Sujo, de Aline Valek, foi o último episódio do podcast Bobagens Imperdíveis. A história de uma jovem que descobre estar com uma dívida, e como isso implica em sua vida, é narrada de forma divertidíssima. O conto pode ser ouvido no podcast, aqui, e lido no livro Neuroses a Varejo.
O último episódio do podcast Além do Meme conta a história de uma pessoa que conheceu a fama na infância, mas conseguiu vivê-la de forma saudável e hoje leva uma vida normal. Isso me impressionou porque várias das histórias contadas nesse podcast - que investiga os memes da internet - são sobre pessoas que perseguiam a fama e tiveram de aprender a lidar com ela, ou de pessoas que foram pegas de surpresa pela fama momentânea e tiveram suas vidas destruídas no caminho. Vale pra pensar no que a gente acha engraçado e por quê. Ouça aqui.
O novo livro de Nádia Camuça, Cierzo, foi lançado em abril e está disponível para venda diretamente com ela, via Instagram. É um livro de poesia erótica, e conta também com fotos que retratam a própria autora. Já tenho meu exemplar e estou doida para ler. Li recentemente o livro anterior da Nádia, Meus fantasmas dançam no silêncio, e gostei muito! A resenha sai em breve.
Ainda estou vendendo livros usados. Minha loja na Shopee se chama Desapegos da Lethycia e contém livros clássicos, poesia contemporânea, contos, crônicas, não ficção, young adult, romance policial, fantasia, suspense e não ficção. Conheça e compre aqui. Você recebe o livro na sua casa pelo Correio, e de brinde, marcadores de página e um bilhetinho fofo escrito por mim!
Essas foram minhas recomendações para hoje.
Apesar das novidades boas que trouxe aqui, não estou podendo dispensar formas de ganhar dinheiro a mais. Quero lembrar de que, se você for comprar qualquer coisa na Amazon, pode usar meu link de associada pra isso. Eu ganho uma comissão a partir da sua compra e você não paga nada a mais! Não vai comprar nada agora? Não tem problema! Eu compartilho mais desses links com dicas de livros no Twitter e qualquer coisa comprada a partir de um clique já me ajuda. Pela DM, você também pode me pedir para gerar um link direto para o produto que quiser.
Você também me ajuda comprando meus livros ou lendo pelo Kindle Unlimited.
Espero que tenham gostado!
Um abraço,
Lethycia