Minha oração ao tempo - Uma mulher que escreve #56
Uma reflexão sobre tempo, escrita e sobre consumir newsletters. E uma playlist rapidinha.
Por Lethycia Dias - Edição 56
Olá, pessoas que leem!
Um dos motivos que me levaram a querer estudar jornalismo foi perceber que muitos escritores brasileiros do século passado, entre eles alguns dos nomes mais prestigiados da nossa literatura, foram também jornalistas. Na época, eu ainda não sabia que isso era pela impossibilidade de pagar os boletos com dinheiro ganho vendendo livros, mas volta-e-meia, a vida me faz lembrar da minha aspiração ingênua de adolescente.
Tempos atrás, eu fui uma grande consumidora de crônicas - um gênero literário tipicamente brasileiro que tem TUDO a ver com jornalismo - seja por meio do jornal impresso que meu colégio do Ensino Médio recebia e expunha em suas paredes todos os dias; seja no formato de livro, em coletâneas que reuniam o melhor da produção de cronistas-jornalistas-escritores brasileiros.
O ponto onde quero chegar é que essas leituras alimentavam diretamente o meu sonho de um dia trabalhar em algum jornal ou revista de grande circulação, de ter minha própria coluna semanal. E eu me imaginava no futuro tendo meus melhores textos reunidos em um livro como aqueles.
Acho que foi principalmente isso que me levou a gostar tanto de consumir newsletters e até desejar ter a minha própria: a semelhança que esse formato de publicação tem com uma coluna de jornal - e o melhor: sem disputar espaço com anúncios e sem uma linha editorial te podando e decidindo sobre o que ou como você pode falar. Sou eu que mando aqui!
Sejam bem-vindos à minha coluna quinzenal! Na seção abaixo, teremos uma espécie de crônica escrita por mim.
E uma coisa curiosa é que hoje, diferente de quase todas as edições anteriores desta publicação, estou escrevendo sob encomenda, com um tema bem definido. Assim, na edição nº 56 de Uma mulher que escreve, você encontra:
Minha oração ao tempo;
Um evento sobre newsletters para você;
Uma lista de canções sobre o tempo.
Então, vamos lá?
Minha oração ao tempo
Dizem que és um senhor bem bonito, e eu espero algum dia aprender a perceber isso. No momento, tens sido fonte de ansiedade e angústia quando nos meus dias eu desejo que passes de forma diferente da que te percebo; ora devagar, ora mais rápido. Nunca estou satisfeita contigo.
Como é estranha a melodia que tens composto para mim! Por vezes feita de dificuldades, incertezas, medos. Mas também incluindo em tua passagem aprendizados que eu sei, sem ti, não poderia ter. O que seria de minha escrita sem tua colaboração que lapidou minha paixão pelas palavras e o que pouco que eu sabia de literatura até que eu tivesse a confiança, a força de vontade de tecer histórias dia após dia, parágrafo a parágrafo, para costurar narrativas completas?
É evidente a importância que tiveste nesse processo.
Mas não entramos, ainda, num acordo sobre o que posso ou não esperar de tua passagem sobre a minha vida. É verdade que curaste feridas, que me apresentaste a tua velha amiga experiência. Mas há dores que, por mais que tenhas passado, não pudeste levar embora. Há mágoas que, contigo, parecem ter ficado ainda mais amargas, mais difíceis de engolir e suportar. Podemos combinar o será feito de mim quando vieres fazer tua mágica?
Enquanto não me respondes e não sei o que esperar de ti, quero apenas pedir uma coisa: que me permitas lembrar as alegrias mais doces e genuínas; que me lembres de que estás passando, não importa o que eu faça para me enganar, e que assim eu me assegure de aproveitar ao máximo cada pequena coisa, cada pequeno momento, cada sorriso e olhar e abraço e beijo e risada. Porque estás a passar, e tu sabes, quando percebemos, na verdade já te foste.
Por fim, peço desculpas por usar somente paráfrases para me dirigir a ti. É que ainda acho que, entre todas as coisas já escritas a teu respeito, a canção de um antigo compositor baiano ainda contém as palavras mais bonitas.
O Texto & O Tempo - Discutindo newsletters
Eu não sei qual a sua relação com o formato newsletter. Não sei se já acompanhou outras antes da minha ou se fui a sua primeira descoberta desse tipo de publicação; não sei se gosta de ler e-mails longos ou se só está aqui pelas novidades que trago de vez em quando. Como já disse no início desta edição, a minha história com esse formato é longa.
Foi por isso que, quando fui convidada para participar do evento O Texto & O Tempo, fiquei super empolgada! É uma reunião virtual entre pessoas que escrevem e pessoas que leem newsletters, para celebrar e discutir esse formato. Haverá oficinas, rodas de conversa e a oportunidade de ver e ouvir várias pessoas legais do mundo da escrita-via-e-mail. Confira a programação completa aqui.
O Texto & O Tempo acontece nos dias 5 e 6 de novembro, e participarei da mesa Newsletter Fantástika: como promover o trabalho de ficção com newsletters, junto com Carol Chiovatto, Eric Novello e Felipe Castilho, com mediação de Ligia Colares, no dia 05 (sábado), às 16h.
O evento tem ingressos vendidos pelo Sympla por R$ 48,00 - e ainda há vagas sociais gratuitas destinadas a pessoas com deficiência, pessoas de baixa renda, pessoas trans e/ou não-brancas.
Conto com a audiência de vocês!
Canções sobre o tempo
Oração ao tempo, Caetano Veloso;
Tempo rei, Gilberto Gil;
Tempo perdido, Legião Urbana;
O tempo não para, Cazuza;
Sobre o tempo, Pato Fu;
Tempos modernos, Lulu Santos;
Resposta Ao Tempo, Nana Caymmi;
Tempo e artista, Chico Buarque;
Tempo de amar, Milton Nascimento;
O tempo e o rio, Maria Bethânia.
Algumas dessas músicas vieram à minha mente assim que eu pensei em fazer uma lista, e óbvio que Oração ao tempo é uma delas. Mas talvez eu tenha digitado a palavra "tempo" na busca das minhas músicas favoritadas do Spotify para encontrar outros títulos.
E sim, tem playlist pra vocês!
Li, ouvi e assisti
Nas últimas duas semanas, avancei com os dois livros físicos iniciados em agosto que eu andava lendo bem devagar. Estou perto de acabar Conectadas e, no último fim de semana, terminei de ler O Xangô de Baker Street. Era o único que me faltava ler entre os romances de Jô Soares, e apesar das experiências negativas que tive com as releituras dos outros livros dele nos últimos anos, gostei muito desse. Sabiam que Jô Soares foi a primeira pessoa no Brasil a publicar uma fanfic no formato livro? [Isso é uma brincadeira minha], mas é que eu REALMENTE decidi encarar O Xangô como uma fanfic de Sherlock Holmes!
Li o conto O pior pesadelo de um homem, que narra mais de 200 anos de vida de uma súcubo assexual em busca de autoconhecimento por não conseguir se encaixar entre as outras de sua espécie. Eu tinha muita curiosidade com essa história, e adorei como Marina Feijóo escolheu lugares não tão óbvios para narrativas históricas, além de gostar muito das reflexões que ela faz sobre patriarcado e a função esperada dos corpos de mulheres nessa história. Leia aqui.
Também no último fim de semana, comecei a ler um livro que tinha comprado anos atrás e deixado na estante até outro dia. Só o que eu sabia sobre O rei de amarelo é era um clássico do horror. Mas pegar um livro que você comprou há muito tempo e se perguntar se ainda vai se interessar ou gostar é sempre uma EXPERIÊNCIA, não é mesmo? Descobri, na introdução, que esse livro supostamente foi uma influência para H. P. Lovecraft e agora estou preocupada com o que vou encontrar nele. Veremos no que essa brincadeira vai dar.
Sabendo que no fim do mês, a Noveletter - newsletter de publicação seriada de histórias de romantasia - deve apresentar Estudo sobre amor e outros venenos letais, resolvi reler Tratado sobre tempestades e outros fenômenos extraordinários, de Isabelle Morais, que foi lançado no formato e-book recentemente. Eu já tinha amado essa história quando foi publicada capítulo a capítulo, e agora, só me apaixonei ainda mais por Aleksey, Ivan e Morena. Como pode três pessoas que nem existem mexerem TANTO comigo?? Estou ansiosa e SEDENTA pela continuação!
Nos últimos dias, ouvi alguns episódios excelentes de podcast. Entre eles, estão o número 73 do 451 Mhz, intitulado "O que é ser LGBTQIA+ no Brasil". Saí dele com duas dicas de filme para assistir. Ouça aqui. Também recomendo o episódio "Fascismo e autoritarismo na literatura", do Entre Sumários Cast. Não sou ouvinte regular desse programa, mas estou meio que flertando com ele, ouvindo um episódio aqui e outro ali.
Terminei de assistir - finalmente - à primeira temporada de Bridgerton, e além de ter me divertido muito com uma narrativa cheia de gente bonita sobre quem vai se vestir melhor no baile, quem vai casar com quem, e quem está fofocando sobre todo mundo, amei o fato de a trilha sonora utilizar músicas interpretações instrumentais contemporâneas. Nunca imaginei que isso poderia combinar tão bem com uma série de época! Já comecei a segunda temporada e vocês sabem, o ritmo vai ser lento, mas se eu gostar, devo trazer comentários aqui algum dia.
Duas recomendações de leitura
Meu amigo Júnior Bueno também já escreveu um texto inspirado em Oração ao tempo e eu recomendo muito a leitura, porque a versão dele é bem mais bonita do que a minha.
A biografia do Lula, escrita por Fernando Morais, está custando TREZE REAIS no formato e-book! É essa a indicação! Eu ainda não li, mas sou apaixonada por biografias, e como já li Olga, escrita pelo mesmo autor, tenho expectativas altas. Mas se a pessoa que escreveu não fizer diferença pra você, o personagem em si já pode ser atrativo o suficiente! Compre aqui.
E no dia 30, é 13 confirma, né?
Eu fico por aqui!
Um abraço,
Lethycia