O que é sucesso pra você? - Uma mulher que escreve #42
Como "sucesso" pode significar coisas diferentes pra cada pessoa - e por que é importante se lembrar disso.
Por Lethycia Dias | Edição 42
Título - Uma mulher que escreve #42
What a fuck is "sucesso"?
Olá para vocês que me leem! No último sábado, ouvi o episódio mais recente do podcast Os 12 Trabalhos do Escritor, em que Anna Martino, Waldson Souza e AJ Oliveira conversam a respeito da ideia de "sucesso", e isso conectou alguns fios na minha cabeça. Gosto de usar a palavra sucesso entre aspas sempre que possível, porque "sucesso", muitas vezes, é uma coisa que a sociedade e a mídia definem como o ideal a ser desejado por todos, e se você não tem isso para exibir para o mundo - ainda que esteja feliz com seu trabalho, com seu relacionamento ou seus hobbies, - então você é um fracasso e uma pessoa infeliz.
Mas, afinal, o que é sucesso? Ter emprego com salário bom, casa e veículo próprios, um relacionamento estável monogâmico e filho(s) antes dos 30? É o que dizem, né? E é mais ou menos isso que os pais de millenial's esperam de nós. Mas não conheço (nem pessoalmente e nem só por internet) ninguém que tenha tudo isso. E segundo a internet, os influencers e coachs, o que seria? Ser seu próprio patrão? Parar de depositar na poupança e começar a investir? Trabalhar com marketing digital vendendo cursos sobre como ficar rico usando a internet? Abrir um onlyfans? Ser streamer? Comprar bitcoin ou vender NFT? Trabalhar enquanto eles dormem? O engraçado dessas fórmulas mágicas é que é sempre uma coisa imposta pro outro, sem nunca explicar porque aquilo é tão bom ou sequer perguntar se aquilo é o que a pessoa quer.
Uma coisa que me fez muito bem a partir do momento que aprendi é que nunca dá pra medir satisfação ou sucesso com a régua dos outros. Porque aquilo que o senso comum considera "sucesso" quase sempre ignora o ponto de partida, e sempre ignora que cada pessoa pode ter coisas diferentes como sonho ou objetivo e considerar coisas diferentes como realizações pessoais. E é claro que isso também acontece no mundo da escrita. Aí que é entramos no ponto que eu quero comentar.
Só você pode dizer o que é sucesso para você
Quando me inscrevi na oficina CEO e Moça do Cafézinho, que teve sua última aula no sábado (12/03), um dos campos no formulário de inscrição perguntava o que era ser uma escritora bem-sucedida pra mim, e se me lembro bem, respondi que era poder escrever histórias que condizem com os meus ideais, respeitando e dando protagonismo para minorias; ser lida por pessoas dessas minorias que se sintam acolhidas pelas minhas histórias; e ter um ganho financeiro compatível com a minha quantidade de trabalho. E um dos principais pontos da oficina era o aprendizado sobre a importância buscar alcançar a sua meta de sucesso, e de saber que, dependendo de como estão as coisas para você, essa meta pode mudar.
Eu nunca tinha pensado a sério sobre isso antes, e, se for considerar os três itens que respondi, posso dizer que já alcancei os dois primeiros. O terceiro, no entanto... ainda é só um pontinho muito distante no horizonte do Grande Oceano da escrita no Brasil. Alguém que tem vários livros publicados e que ganha dinheiro com direitos autorais, com palestras, oficinas e cursos, pode olhar meus relatórios de ganhos na Amazon considerar que estou indo mal. Entre outras pessoas que publicam de forma independente, considerando que tenho um livro curto publicado há mais de dois anos que até hoje continua encontrando leitores novos e que tem páginas lidas no Kindle Unlimited todos os dias, dá pra dizer que estou muito bem. Mas a verdade é que cada um sabe o valor do próprio trabalho e quanto esforço esteve envolvido ali, e como isso pesa na hora de balancear com a satisfação pessoal, com as contas no fim do mês e com ideia que a gente tinha quando decidiu começar. Só eu posso dizer se cheguei lá, e só você pode dizer se você chegou. É sobre isso.
Tem gente que escreve e não quer publicar com editora. Tem gente que sonha com isso. Tem gente que não quer ganhar dinheiro escrevendo e já acha legal publicar textos de graça no Wattpad, no Medium ou numa newsletter como essa. E tem gente que quer poder pagar as contas com dinheiro de livro. Tem gente que quer ganhar o suficiente pra largar o emprego CLT e trabalhar só na carreira de escritor, sabendo que isso não significa só escrever o tempo todo (a menos que você seja o Stephen King). E tem gente que sabe não vai poder largar o emprego formal, gosta do que faz na firma, gosta de escrever também e não quer abrir mão nem de um e nem de outro. O que diminui o estresse envolvido nisso é saber o que você quer e que não importa se a pessoa que você admira está numa situação diferente da que você deseja.
E é engraçado eu ser consciente disso em relação à minha escrita e ficar bem com o que tenho na maior parte do tempo (apesar de ainda me sentir mal às vezes) e não saber aplicar o mesmo pensamento em relação ao meu outro trabalho. Porque eu queria ser repórter, mas os e-mails que enviei com meu currículo e portfólio e com a menção ao trabalho acadêmico premiado do qual sou coautora foram ignorados, e nas entrevistas em que fui, só o que ouvi foi que não poderia trabalhar ali por morar muito longe.
Às vezes, tenho a impressão de que os anos que passei estudando para ter boas notas, o esforço para conseguir uma vaga na graduação e na universidade que eu queria na primeira tentativa e o quanto me dediquei depois disso não valeram de nada, pois, até ontem, estava sendo explorada e desrespeitada em um subemprego, em troca de um salário mínimo + benefícios. E quando penso que vim parar aqui, mesmo tendo ensino superior, falando um idioma estrangeiro e sendo ótima na minha área, eu fico assim:
Escrevi esse tweet num momento de frustração em 2020, quando ainda estava, pela segunda vez, desempregada & desesperada. Foi meu maior hit na rede social dos 280 caracteres, e foi parar em páginas do Facebook e muito provavelmente também do Instagram. Não sei que tipo de respostas gerou, além da quantidade imensa de compartilhamentos, porque silenciei as notificações assim que pude, sem deixar, é claro, de colocar nos comentários o link de Mesmo que eu vá embora. E sim, eu vendi livros chamando a mim mesma de fracassada. Me sigam para mais dicas de marketing editorial (brincadeira).
Hoje, um tanto conformada com a minha situação no mercado de trabalho, eu já não acho que conseguir exercer a profissão de jornalista seria a solução para tudo. Ficaria feliz com um emprego que me pagasse o suficiente para viver de forma digna, com conforto e tempo para escrever e me divertir. Eu não preciso amar - já basta alguma coisa que não acabe com minha saúde física e mental, como está acontecendo agora.
Um pouco mais de livros, músicas e filmes
Desde a última edição, continuo lendo Quincas Borba. Àquela altura, eu já tinha começado Com amor, Simon, que estou perto de acabar; e nesse período, li por inteiro O canto mais escuro da floresta, minha primeira leitura de fantasia com fadas. Gostei bastante da escrita da Holly Black sozinha - pois já tinha lido um livro dela escrito conjunto com Cassandra Clare - e a visão dela sobre fadas também me interessou. Penso em passar para drogas mais pesadas, como a saga do Príncipe Cruel.
Terminei de ouvir a discografia de Shakira, parti para a de Marisa Monte e agora estou na de Maria Bethânia. Quando acabar, vou me dar um descanso deixando o Spotify por duas semanas no modo aleatório.
Continuo assistindo aos filmes do Oscar. Não gostei tanto assim de Spencer, ao contrário do que esperava, e passei raiva assistindo ao 007 e a um filme norueguês chatíssimo. Cheguei ao número de 25 filmes assistidos, incluindo alguns dos curtas, e estou achando que este ano, já vi tudo que havia de bom. Apesar disso, ainda quero ver Drive my car, que chamou minha atenção desde a divulgação dos indicados. Meus favoritos continuam sendo os mesmos.
Recomendações
A última edição da newsletter de Isabelle Morais, enviada em 28 de fevereiro, teve como tema escrever e trabalhar, e conversa muito com o que abordei acima. Leia aqui.
É só o que tenho pra hoje, pois não estou muito criativa. Mas não quis deixar de comentar um pouquinho o assunto porque sinto que é uma discussão importante, na escrita ou em qualquer outra área profissional ou da vida.