Pensamentos sobre criatividade e motivação - Uma mulher que escreve #50
Ou dois momentos diferentes em que parei de escrever e como voltei a fazer isso, tempos depois.
Por Lethycia Dias | Edição 50
Olá, pessoas que leem!
Não sei o quanto vocês gostaram de Break My Soul, o single que Beyoncé lançou no fim de junho. Eu admito que não amei a música de imediato, precisei ouvir algumas vezes até gostar de verdade. Mas em pouco tempo, já estava com ela favoritada no Spotify e me sentindo dentro do hype pelo álbum novo que vem aí.
Se ainda não ouviu, fique com esse vídeo.
Estou mencionando essa música porque tenho pensado bastante nela desde que li que ela teria um significado especial para pessoas que estavam largando empregos ruins nos Estados Unidos. Não preciso nem lembrar que também saí de um emprego ruim, mas nos últimos dias, tenho pensado especificamente em um verso dessa música. You won't brеak my soul. Você não vai quebrar minha alma, em tradução livre. Essa é uma coisa que eu gostaria de ter dito há muito, muito tempo atrás. Eu não queria que a necessidade de pagar as contas tivesse me quebrado como fez.
Na edição de hoje, temos:
Pensamentos sobre criatividade e motivação;
Atualizações;
Um anúncio.
Então, vamos lá?
Como matar a criatividade de alguém?
Em dezembro de 2020, perdi o sono de madrugada e decidi escrever uma história nova. Foi assim que nasceu Como Salvar uma Ceia de Natal, meu último lançamento. E eu gostei tanto de ter escrito um pouquinho naquela madrugada que continuei acordando mais cedo quase todos os dias, desde aquele fim de ano; me dei uma pausa quando entrei de férias, em dezembro de 2021, e parei por desânimo e exaustão em fevereiro deste ano.
Não contei nem metade do que me aconteceu naquela época - e nem posso contar - mas depois de ter perdido a confiança nas pessoas com quem convivia, eu perdi também a minha criatividade, a minha vontade de continuar escrevendo, a alegria de criar um pouquinho todo dia, a esperança de que as coisas podiam melhorar. Para usar as palavras de Beyoncé, quebraram minha alma.
Eu consigo me lembrar de outros períodos em que estive assim. Em alguns deles, minha criatividade foi bastante afetada.
Quando entrei na graduação em Jornalismo, eu estava deslumbrada. Estava estudando o que queria no lugar onde sempre tinha sonhado, junto com outras pessoas que adoravam ler e escrever - ou pelo menos, diziam que adoravam - e acreditava que um dia trabalharia em algum jornal ou revista de circulação nacional.
Então, descobri que a escrita jornalística é baseada em técnica, que os caracteres dos títulos e as linhas dos parágrafos são contados, que não basta só jogar as aspas de qualquer jeito para legitimar o que se escreve com a fala de alguém, e que literalmente existe receita pra escrever notícia. Eu continuava acreditando que Jornalismo tinha muito a ver comigo, mas ao mesmo tempo, não era nada do que eu esperava.
E depois de algum tempo seguindo a receita para escrever notícias - que não eram nem de perto tão empolgantes quanto aquilo que eu imaginei que escreveria na faculdade - eu percebi que a minha criatividade tinha morrido. Eu não conseguia mais escrever contos, crônicas ou poemas como fazia antes, do fim do ensino médio até o início da graduação. Meu plano de contiuar escrevendo até ter a Grande Ideia para um romance estava interrompido, porque eu não conseguia escrever mais nada sem ser para garantir as notas do semestre.
E só consegui voltar a escrever por diversão ou produzir textos que seriam engavetados já no fim da graduação, quando tive uma epifania lendo uma placa num canteiro de uma das avenidas no centro de Goiânia. Eu sempre imagino esse momento como uma coisa típica dos contos de Clarice Lispector. Devo ter parecido uma boba observando e fotografando coisas para as quais ninguém dava atenção. Mas aquilo, pra mim, foi transformador.
Tanto a exaustão que vivi no meu antigo emprego no início do ano quanto o choque que tive no início da graduação foram situações muito diferentes uma da outa, mas acho que existe uma coisa em comum entre elas: quando as coisas ficam complicadas, é fácil perder a motivação. E é difícil lembrar do que nos faz seguir em frente.
Não estou escrevendo isto para dar uma lição de moral ou repetir alguma frase boba de autoajuda que não funciona de verdade na vida de ninguém. Estou escrevendo isso porque eu mesma sinto necessidade de tentar entender o que aconteceu comigo nesse último período em que estive mal. Eu ainda penso em como a perda da minha vontade de criar foi o primeiro alerta de que as coisas não iam nada bem aqui dentro, e como o retorno dela pode ou não ser um indicativo de melhora. Não sei se é mesmo.
Só sei que, quando percebi que o dia estava amanhecendo num quarto gelado de hotel na Zona Norte de São Paulo e que eu tinha escrito mais de 700 palavras pelo celular na minha história abandonada em fevereiro, alguma coisa em mim tinha mudado. Pra melhor.
Gente motivada gera gente motivada
Existe uma coisa mágica envolvida em ver um monte de pessoas que trabalham com aquilo que você mais gosta, falando sobre os projetos, inspirações e paixões delas. Falei rapidamente sobre isso na edição 49, mas estar na Bienal me deixou muito motivada para voltar a escrever.
Eu sei que seguir outros escritores e profissionais do livro nas redes sociais é muito bacana - e por algum tempo, esse foi o único tipo de conexão que eu tive com o mercado literário - mas descobri no início do mês que nada substitui o contato cara a cara. Quando você encontra as pessoas, vê os rostos delas sem ser por uma tela, ouve suas vozes, vê o que faz elas sorrirem ou seus olhos brilharem... É incrível.
Eu sempre senti falta de contato presencial com outras pessoas que amassem livros e já tinha sentido essa energia quando estive no meu primeiro evento presencial - a feira e-cêntrica de 2018 - mas ainda não tinha percebido a diferença. Voltar pra casa motivada, pra mim, foi a parte mais valiosa de ter ido à Bienal: mais do que ver famosos e pessoas admiro, mais do que ganhar autógrafos e comprar ou ganhar livros. Isso não tem preço.
Pra somar com isso tudo, fiz um curso de marketing que não só reforçou algumas visões que eu tinha, como também modificou outras - e me indicou que eu já estava no caminho certo para mudar algumas coisas na forma como trabalho. Esse curso me colocou em contato com outras pessoas que têm dificuldades parecidas com as minhas e que também têm projetos para colocar em prática sem saber como realizá-los. E as trocas com essas pessoas me deram a energia a mais que eu precisava para me sentir capaz de continuar.
Na última quinta-feira, comecei a reformular o "planejamento" que eu tinha para a minha história - se é que podia chamar de planejamento uma série de perguntas e "E se's" que eu tinha anotado desde quando comecei a escrever. Dividi a história e suas duas linhas do tempo em capítulos, pensando em detalhes o que vai acontecer em cada parte, e vi que a coisa fluía bem melhor desse jeito. Continuei o trabalho ontem e finalizei hoje, antes de sair para me inscrever em um processo seletivo.
Diferente de antes, quando eu tinha Minha personagem está vivendo tal situação e talvez aconteça isso no final mas não faço ideia do que rola no meio, agora tenho a história toda pensada - só me falta escrever. Sei que muita gente não gosta de planejar e eu já escrevi ótimas histórias sem isso, mas fiquei bem mais confiante depois de colocar a sequência de acontecimentos em um arquivo.
E fazer isso me animou não só para terminar essa história, mas também para escrever outra que estava só na fase do E se tal coisa acontecesse? e para terminar o meu romance que está em hiato desde o ano passado.
Conforme as coisas forem acontecendo, vou atualizando vocês por aqui.
Três anos de Mesmo que eu vá embora
No dia 29 de agosto, Mesmo que eu vá embora completa três anos de publicação. Três anos em que sou elogiada pela capa, recebo mensagens emocionadas de garotas contando o quanto se identificaram com a história, sou questionada se vai haver continuação e três anos que sou uma escritora autopublicada pelo KDP.
Pensei em uma série de ações virtuais para comemorar tudo isso, e devo adiantar as informações para vocês durante o próximo mês. Por enquanto, posso dizer que estou pensando em uma semana especial no fim do mês. Esperem pela próxima edição para as novidades!
O que eu li, ouvi e assisti
Eu realmente interrompi a leitura de Torto Arado e O beijo do rio para começar Açúcar Queimado e Aprender a falar com as plantas duas semanas atrás. Estou avançando bem devegar nesses livros, mas de vez em quanto, ainda pego os dois que tinha iniciado antes para ler quando tenho que andar de ônibus - eu morro de medo de ter o meu Kindle roubado no transporte coletivo, então prefiro andar por aí com livro físico. Terminei de ler Allegro em Hip-Hop e adorei o casal dessa história. Além disso, estou postando no Instagram as resenhas dos livros que concluí no mês passado.
Ouvi uma playlist que dizia ser a trilha sonora completa da Saga Crepúsculo, mas incluía também músicas "inspiradas" ou que a pessoa que a criou considerava que "tinham a ver". De qualquer forma, quase decidi assistir aos filmes todos de novo, coisa que eu nunca fiz desde que vi Amanhecer - Parte 2. Eu não me considero fã de Crepúsculo há anos, mas acho a nostalgia dos fãs extremamente divertida. No último fim de semana, fiquei viciada em um cd de bossa nova como se eu fosse uma gringa nos anos 50 e ouvi Sinatra/Jobim: The Complete Reprise Records por três dias seguidos porque ele é ótimo pra ouvir na hora de estudar ou ler. No momento estou ouvindo uma playlist com músicas de Ellen Oléria e gostando muito!
Estou assistindo novamente aos filmes de Star Wars para assistir às coisas novas lançadas no Disney+. Continuo fazendo meu rodízio pelos streamings que assino, e deles, destaco Respect: A História de Aretha Franklin (Prime Video) e Idas e vindas do amor (Netflix). Sou lenta com séries, mas no momento estou surtando e morrendo de amor com a série da Turma da Mônica (Globoplay), além de continuar assistindo Pantanal. Cheguei aos capítulos de maio e, pelo que parece, ao período em que a novela foi mais interessante paras os internautas.
Por hoje, é só isso.
Um abraço,
Lethycia