"Precisa mesmo falar disso?" - Uma mulher que escreve #60
Por que uma mulher falando do que sente incomoda tanto?
Edição nº 60
Mrs. Dalloway Miley Cyrus disse que iria ela mesma comprar as flores. Shakira chamou Piqué de burro. E o mundo veio abaixo.
Durante uma semana, as novas canções das duas artistas motivaram um debate intenso nas redes sociais. Quatorze traições acumuladas em um relacionamento passado ou uma só ocorrência recente, com o terrível agravante de comer o doce alheio. Xingar a sogra de bruxa, dizer que está bem melhor agora. Faturar com uma decepção amorosa. Afinal, pode ou não pode uma mulher botar a boca no trombone e expor para o mundo as merdas feitas pelo ex?
Questionaram se era uma atitude madura. Se não era “se rebaixar” e mostrar que ainda não superou o chifre - e tem prazo definido pra isso?
A meu ver, todo o frenesi gerado por duas celebridades magoadas reflete o quanto ainda existe um pensamento de que a mulher não deve falar de seus ressentimentos, de sua dor, de sua raiva. Deve perdoar e ficar quieta, de preferência bonita e sorrindo.
Uma mulher falando incomoda muita gente
Quando estava pesquisando para o meu TCC, que deu origem ao livro Elas Falam Por Si, um tema recorrente entre vários livros e artigos (de opinião ou acadêmicos) sobre literatura de autoria feminina era o quanto qualquer coisa produzida por mulheres é menosprezada, ridicularizada, considerada menor ou sem importância.
Nas palavras de Bruna de Lara, no artigo A “mulherzinha” da literatura, “[…] os homens não se interessariam pelos escritos de uma mulher. A mulher não seria capaz de escrever algo relevante o suficiente para ser levado a sério por eles.”.
O artigo O cânone literário e a autoria feminina, de Constância Lima Duarte, aponta uma série de consequências sofridas por mulheres que ousaram expressar ideias com sua escrita: desde ter sua obra roubada por um homem até ver seus manuscritos serem queimados.
Hoje, mulheres que falam o que pensam não necessariamente têm seu trabalho penalizado, mas ainda sofrem com haters, ataques virtuais, difamações e ameaças. Ou com a internet inteira dando opinião sobre suas vidas, sua aparência, suas escolhas e seus relacionamentos. Por isso que a Shaki alugou um estádio na cabeça do tuiteiro.
E quando alguma coisa feita por uma mulher ou para mulheres - ou alguma coisa consumida por um público majoritariamente feminino - faz sucesso, essa coisa também paga o pato. É considerada ruim, de baixa qualidade, infantil e ridícula. Foi assim com a saga Crepúsculo, é assim com os grupos de K-pop e com as músicas de Taylor Swift - que, vejam só, também escreve canções sobre ex-namorados.
Assim, gostar de histórias de amor proibido sobre uma humana e um vampiro é coisa de menininha, gostar de boybands mundialmente conhecidas é coisa de menininha, cantar sobre coração partido é coisa de menininha. E não estou falando só da Taylor Swift. Olivia Rodrigo também foi criticada por isso.
Mas homens podem falar, escrever, produzir, dirigir e fazer o que quiserem. E ninguém nunca vai chamá-los de bobos por isso.
O que li, ouvi e assisti
Desde o início de janeiro, eu estava lendo, entre outras coisas, Daisy Jones And The Six e Na natureza selvagem. Como uma fã e passadora de pano de Evelyn Hugo, eu TINHA que ler o outro livro de Taylor Jenkins Reid sobre outra celebridade fictícia. Achei incrível como a autora não só CRIOU uma banda, seus integrantes, os nomes e letras dos maiores hits e a história de como essa banda começou e terminou, mas também escreveu tudo isso EM FORMA DE ENTREVISTA, como se fosse um documentário escrito! Mas… Detestei a Daisy. Os únicos traços de personalidade dela eram se achar boazona e se drogar?
Já o livro sobre o moço que 30 anos atrás morreu de fome tentando viver das coisas que a natureza dá estava na minha lista há um tempão. Passei boa parte da história sem saber bem o que pensar, mas terminei em completo DESESPERO com o autor justificando a irresponsabilidade do cara como “imaturidade juvenil”. Eu, que sou a pessoa mais medrosa do mundo, acharia de bom tom avisar minha família e ouvir dicas de segurança antes de ir viver uma aventura.
Mas minha leitura especial desse mês foi mesmo um livro que eu tive acesso ANTECIPADO por conhecer o autor. Só uma rapidinha, de Koda G., é uma coletânea de minicontos eróticos protagonizados por pessoas LGBTQIAP+ e brilha muito propagando a ideia de que não tem nada de errado em explorar a própria sexualidade. O livro começou como uma newsletter homônima que eu lamento muito por não ter assinado desde o início e entra em pré-venda na Amazon amanhã, 26 de janeiro - mas se você está lendo isso no futuro, o livro pode já estar disponível.
Ouvi pouca coisa nova ultimamente, mas achei esse álbum aqui uma delicinha:
Na última sexta-feira (20), finalmente assisti ao Batman do Robert Pattinson e adorei. Eu estava curiosa com esse filme desde as primeiras divulgações de fotos, porque ver o Pattinson caracterizado mexeu com a adolescente crepusculete que ainda vive dentro de mim. Mas as quase 3 horas de duração foram o meu maior inimigo pra dar play desde que assinei o HbO Max.
Por hoje, é isso.
Um abraço,
Lethycia
Links para conhecer melhor a mim e ao meu trabalho:
Amo Daisy Jones & The Six e sim, temo que a personalidade dela seja se drogar e ser boazuda kkkkk
estou super ansiosa pela série. sempre tenho medo de adaptações, mas parece que vai ser legal!