Chega e nem pede licença - Uma mulher que escreve #67
Em duas semanas, fui duas vezes arrebatada pela vontade de escrever histórias novas
Olá, pessoas que escrevem!
Hoje teremos uma news mais rapidinha focada em atualizações.
Nas últimas duas semanas, andei meio arrebatada por uma vontade louca de escrever histórias novas. Fazia tempo que eu não sentia nisso, já que no ano passado, fiquei vários meses sem escrever, e antes desse hiato, passei bastante tempo escrevendo uma mesma história - que, digamos de passagem, ainda não está concluída.
Não, eu não fico esperando ter “inspiração” para escrever, e sei que escritores profissionais não podem depender dela. Escrever com regularidade exige planejamento, disciplina, constância, imersão. Normalmente você consegue concluir um romance quando já conhece bem os personagens e sabe como a história precisa se desenvolver para chegar ao final esperado. E aprendi, fazendo escaletas e roteiros para as minhas últimas histórias, que quando você faz todo o planejamento antes de começar a escrever, a coisa flui com muito mais facilidade, porque você já pensou em tudo e registrou em algum lugar. Só falta fazer acontecer. Você abre o editor de texto, confere o último parágrafo escrito, abre seu planejamento e já sabe como continuar.
É por isso que eu ainda fico surpresa e eufórica quando tenho aquele sentimento de que preciso escrever uma história nova. Todo escritor sabe como é isso, embora ninguém saiba explicar direito. Um estalo, um insight, uma lâmpada que se acende, um arrepio, uma coisa, uma vontade… Deve ser isso que chamam de inspiração.
Mas, seja lá qual o nome que você dá pra ela, quando a vontade vem, é que nem aquela música do Lenine: avassaladora, chega sem avisar, toma de assalto, atropela, chega e nem pede licença, avança sem ponderar.
Na noite em que postei o tweet acima, eu estava deitada na meu quarto na casa do meu pai em Sobradinho - DF, lendo e ouvindo música pelo Spotify, quando o modo aleatório do app começou a tocar uma música que há tempos eu pensava que conta uma história e tanto. A ideia estava na minha gaveta mental de quem sabe um dia, já que estou determinada a concluir meu romance antes de começar qualquer outra coisa, então eu nunca tinha sequer me esforçado para desenvolvê-la. E ali, ouvindo a música que deu origem a tudo, eu senti que precisava fazer alguma coisa.
Abri um arquivo no Google Docs e digitei apenas um parágrafo para essa ideia, mas ela agora é bem mais palpável na minha mente do que era alguns dias atrás. A culpa é toda da Elis Regina.
E como se não bastasse ter passado por isso uma vez desde a última edição, ainda aconteceu de novo!
Não sei se cheguei a comentar aqui, mas em dezembro do ano passado, comprei um curso de escrita na intenção de encontrar um caminho para reestruturar e então reescrever meu romance. E no mês passado, percebi que ainda estava nas aulas introdutórias e que só me restavam mais dois dos seis meses de prazo que eu tinha para entregar as atividades do curso - entre elas, o planejamento completo para um romance.
Assim, decidi correr para assistir às aulas e fazer os exercícios, e era isso que eu estava fazendo até a semana da última edição, quando cheguei num exercício que fiquei sem saber como realizar:
Eu precisava criar dois personagens utilizando alguma das teorias psicológicas que o curso apresentava (entre elas, a Pirâmide de Maslow e os tipos Jungianos), produzir fichas para eles e escrever uma cena de uma página incluindo diálogos. Não tinha sentido fazer isso para as personagens do meu romance, já que elas estão presentes numa história anterior minha e já têm personalidades bem definididas, então decidi fazer o exercício com as personagens de uma outra história - essa também uma ideia antiga que não faço ideia de quando vou escrever.
Na semana passada, num dia em que perdi o sono de madrugada, comecei a pensar numa ideia antiga sobre duas garotas de cursos universitários rivais precisando se unir durante uma viagem em grupo, e ao invés de tentar dormir de novo, assisti novamente à aula do curso sobre criação de personagens e comecei a responder o exercício no bloco de notas do meu celular.
Às sete horas da manhã daquele dia, minhas universitárias rivais já tinham nome, genitores, endereço, matrícula na universidade pública, tipos psicológicos definidos e 448 palavras de uma cena engraçadinha em que trocam provocações enquanto estão trancadas numa sala.
Na manhã seguinte, acordei cedo de propósito e comecei o planejamento da história seguindo a mesma estrutura que estou usando no meu romance. Eu chamo essa brincadeira de meu haters to lovers universitário e já quero começar a escrever assim que terminar o romance for possível.
(Novas ideias, por favor, esperem pelo menos eu terminar essas duas histórias pra poder arrombar a porta da minha mente de novo!)
Sabia que estamos no #MaioNacional? No dia 1º, que foi o Dia da Literatura Brasileira, dei cinco dicas de livros bem brasileiros para ler (em qualquer época do ano)!
Li, ouvi e assisti
Pausei a minha leitura de Os pilares da terra por duas semanas enquanto estava na casa do meu pai, porque eu não tinha como levar comigo um livro com o tamanho e o peso de um tijolo. Terminei de ler Pachinko e, assim como todo mundo que eu conheço que leu esse livro, fiquei apaixonada por essa história e pelas multiplicidades de experiências de coreanos vivendo como imigrantes e expatriados no Japão, do início ao fim do século passado. Foi uma leitura emocionante e não vejo a hora de começar a ver a série pelo Apple TV+.
Li o romance Minha querida Julie, a continuação de O Irlandês, de Tayana Alvez, que acompanha o drama da mocinha brasileira intercambista tentando manter saudável o seu relacionamento com um gringo pai de duas meninas super fofas porém devastado pelo luto. Eu amo que todo mundo nesse livro faz terapia! Eles precisam mesmo! E terminando essa história, li também o divertidíssimo um garimpeiro, um padre, um médim, um detonador, um guia turístico e eu, de Paula Gomes. Esse título, por si só, já despertava minha curiosidade e eu não me arrependi de experimentar. A narradora conta cinco histórias de pessoas que fracassaram, ocorridas numa cidade interiorana que tem a peculiaridade de não permitir que ninguém vá embora. É uma mistura de fofoca e realismo mágico com muito bom-humor!
Ouvi o último episódio do podcast 451 Mhz, sobre o novo romance de Itamar Vieira Junior, só para confirmar que vou ficar passando vontade até conseguir comprar um exemplar de Salvar o fogo! Se você gostou de Torto Arado, com certeza vai querer ouvir!
Na semana passada, assisti à minissérie Isabel: A história íntima da escritora Isabel Allende, que é tão intensa, interessante e apaixonante como seus livros. Em três episódios, acompanhamos Isabel desde a infância até o momento da morte de sua filha Paula, que é homenageada no livro de mesmo nome, incluindo as inspirações pessoais para seu romance mais famoso, A casa dos espíritos. Está disponível no Prime Vídeo.
Também vi o documenário As faces da beleza, que é uma verdadeira aula sobre padrões de beleza, estereótipos e empoderamento estético de mulheres negras. É bem focado no contexto histórico e cultural dos Estados Unidos, mas a insegurança, a baixa-autoestima, a tentativa de apagar ou amenizar os próprios traços na tentativa de parecer “mais bonita” que várias mulheres negras retratam no filme podem ser compreendidas por qualquer uma de nós. Está disponível no Globoplay.
Eu fico por aqui.
Um abraço,
Lethycia
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