Realinhando os eixos - Uma mulher que escreve #70
Por que adiamos o lançamento do livro De todas as paradas do mundo (16/06) e as angústias envolvidas nisso.
Já falei muitas vezes na terapia sobre como qualquer tipo de mudança na minha rotina me assusta, ainda que seja uma mudança boa. Um compromisso que surge de repente, uma tarefa extra, um novo trabalho… Tudo me deixa apavorada porque, na minha cabeça, eu preciso repensar cada minuto do meu dia que passo acordada, e às vezes até o tempo que passo dormindo, para garantir que tudo vai dar certo. Sim, isso parece um problema pra mim. Não é à toa que faço terapia.
Imaginem então quando a mudança envolve uma coisa planejada com meses de antecedência e que foi divulgada por semanas para que as pessoas soubessem que aconteceria no dia tal do mês tal. Por isso, foi particularmente estressante e frustrante pra mim não poder iniciar a pré-venda de De todas as paradas do mundo no dia 02 para lançar no dia 07. Na edição de hoje vou falar principalmente disso.
Eu e minhas colegas de antologia fizemos o cadastro, upload do arquivo e envio no nosso livro na plataforma do Kindle Direct Publishing (KDP) da Amazon com dias de antecedência, como é de praxe para quem autopublica livros por lá. O prazo para que um livro seja disponibilizado, normalmente, é de 72 horas. E começamos a ficar nervosas quando percebemos que esse prazo passou e nada de termos a página do nosso livro gerada na loja.
Só após entrarmos em contato com o atendimento do KDP, pedindo por uma explicação, é que fomos informadas de que nosso arquivo continha um erro, que corremos para corrigir. Reenviamos o livro. Mesmo assim, na noite do dia 01, nosso livro não estava disponível. Nem na manhã do dia 02. Nem de tarde. Nem na noite daquele dia. A essa altura, já estávamos enviando um comunicado para nossos parceiros de divulgação, pedindo desculpas pelo transtorno e prometendo novas notícias em breve.
Acontece que nossa pré-venda coincidiu com a implementação de uma mudança nas diretrizes do Amazon KDP que deixou todo mundo surtado no mundinho da autopublicação digital. Na noite do dia 01, véspera da nossa não-realizada pré-venda, a escritora Valéria Veiga postou uma sequência de tweets alertando sobre o sumiço de várias das categorias para classificação de livros e sobre uma nova necessidade de declarar a existência ou não de conteúdo explícito para maiores de 18 anos. E, o que era pior para nós: o prazo para disponibilização de novos livros aumentaria de 72 horas (3 dias) para até 10 dias.
Ninguém sabe quando exatamente as mudanças entraram em vigor e nem se passaram a afetar todos os autores do KDP de uma só vez, porque antes que esse twet repercutisse levando outras autoras a investigarem as mudanças por conta própria, não houve nenhuma comunicação oficial da Amazon a respeito.
Nos dias seguintes, após muito barulho em várias redes sociais, alguns autores que acompanho receberam e-mails sobre as mudanças, mas só porque pediram explicações. Nada espontâneo. Como se nem precisássemos ser avisados de forma generalizada. Quando digo que o trabalho de escritores independentes no Brasil é precário, é disso que eu falo: para que nossos livros tenham visibilidade e alcance satisfatórios, ficamos à mercê das arbitrariedades de uma empresa que caminha para se tornar um monopólio.
Como bem disse Tayana Alvez, somos clientes do KDP, não funcionários do programa.
O que tudo isso tem a ver com nosso livro, que foi enviado antes das mudanças? - afinal, quando o cadastramos, ainda tínhamos acesso à antiga lista de categorias!
Na manhã do dia 03 (sábado), após mais uma vez questionarmos a demora na liberação do nosso livro, fomos informadas de que ele poderia levar até 10 dias úteis para sair, o que poderia acontecer apenas no dia 15 de junho. Como já havíamos perdido a nossa data inicial de pré-venda e corríamos o risco de perder também a nossa data de lançamento, decidimos adiar o lançamento e cancelar a pré-venda, tornando o livro imediatamente disponível na data nova. Se a plataforma colaborasse, é claro. Foram horas conversando, avaliando, escrevendo e-mails, editando posts já prontos, planejando, produzindo e editando posts novos. Na sábado mesmo, comunicamos no nosso Instagram que nosso livro será lançado no dia 16 de junho, e na segunda-feira, comunicamos o mesmo aos nossos parceiros.
Nem sei como explicar o quanto tudo isso foi desgastante. Tínhamos planejado lançar nosso livro ambientado na Parada LGBT de São Paulo na semana que antecedia a Parada. Aproveitar não só o hype do Mês do Orgulho, que já orienta a publicação de muitos livros, como também o do evento em si. Planejamos ações, brindes digitais, sorteios, publieditorial e um monte de trabalhos em conjunto com outras pessoas que já estavam previamente agendados e tiveram de ser adiados, com mais ou com menos dificuldade.
Sem falar na angústia que passamos antes de sabermos do erro contido no nosso arquivo. Desde o fim de maio, todos os dias eu acordava e a primeira coisa que fazia no celular, ainda deitada na cama, era abrir a Amazon e pesquisar o nome do livro e os nomes das minhas colegas de publicação, sem encontrar o resultado esperado, só para mais tarde, quando aquela de nós que estava responsável pelo cadastro no KDP pudesse, nos avisar que ainda não tinha recebido o link da página de venda. E essa angústia continuou também depois de termos corrigido o arquivo e recebido o novo prazo da plataforma, porque “até x dias” pode significar que saia antes do fim do prazo.
Até a nossa revelação de capa foi prejudicada. Nós postamos a capa ao longo do dia 1º de junho dividida em partes de quebra cabeça via stories, no perfil do livro e nos perfis das autoras, mas após as onze horas da noite, quando todas as peças enfim foram postadas, já estávamos desanimadas com a possibilidade de não termos o livro à venda no dia seguinte. E nem levamos a imagem completa para o nosso feed porque o post que tínhamos pronto com a imagem da capa era o post de anúncio da pré-venda.
Dias depois, após repensarmos nossas ações, tivemos nossa capa revelada pelo perfil do Clube Sáfico no Twitter, que fará a leitura coletiva do nosso livro - ainda dá tempo de entrar no canal do Telegram pra participar! Deixo a capa abaixo para vocês conferirem também. É linda, não é?
Com tanto pepino pra resolver nesse pré-lançamento, passei vários dias dormindo mal, com dificuldades para me concentrar nos estudos - sendo que tenho uma prova no fim do mês - e sentindo um cansaço físico e mental acentuado. Eu não conheço nenhum autor que não fique ansioso ou cansado em períodos de lançamento, mas este vem sendo o meu lançamento mais cansativo de todos.
Eu sei que prometi uma edição-extra da news quando o livro estivesse disponível, e espero, sinceramente, trazer essa edição sem falta na sexta-feira (16).
Li, ouvi e assisti
Minha leitura de Os pilares da terra continua e tive uma ótima amostra de como a minha perspectiva mudou em relação a esse livro. Eu continuo achando uma ótima história, de forma geral. Mas quando o casal que eu me lembrava de ter shipado intensamente na primeira leitura chegou ao seu principal conflito, eu percebi como ainda estavam imaturos. Ele, precisando descobrir como o mundo era maior do que a aldeia em que vivia; ela, presa a uma obrigação que só existia na própria cabeça, sacrificando a si mesma em nome de um juramento que só fez por ter sido pressionada. Na minha primeira leitura, os dois pareciam impedidos de ficar juntos por algo além de suas forças; agora, eu via que o impedimento é mais ligado àquilo que acreditam, e que cada um precisaria seguir seu caminho para descobrir aquilo de que precisava. O livro está se encaminhando para isso e a história está bem mais interessante agora.
No Kindle, conclui a leitura de O desenterro e estou lendo Entre livros e fios dourados, uma fantasia escrita por Lolline Huntar’z, uma das minhas colegas de antologia, com um romance entre uma escritora e uma bibliotecária que se conhecem durante um grande evento literário em um mundo onde a literatura é valorizada como nós leitores desejamos que ela seja.
No Spotify, ouvi as playlists made in brazil e Baile da solidão. Essa última, como o nome sugere, reúne músicas que falam de alguma forma sobre solidão. É bonito e triste ao mesmo tempo. O podcast Entre Sumários postou dois ótimos episódios: em Cuidado com o que você posta nas suas bookredes, falam da importância de nós escritores nos questionarmos “é de bom tom?” antes de postarmos qualquer coisa na internet. Já Literatura Afro fantástica tem uma discussão incrível sobre livros de ficção especulativa escritos por pessoas negras, sobre que tipo de livro com protagonismo negro costuma atrair a atenção de pessoas brancas e o racismo envolvido em críticas ao novo filme da Pequena Sereia.
(Lembrando sempre que se você se interessou por qualquer um desses livros, pode adquiri-los na Amazon através dos links que compartilho aqui, e com isso, destinar para mim uma pequena comissão. Comprando qualquer outro produto na loja, o efeito é o mesmo!)
Comecei a ouvir o podcast Rita Lee: Outra Autobiografia, que não é um audiobook da nova biografia de Rita Lee, mas sim uma espécie de tributo a partir de entrevistas com pessoas que tiveram alguma relação de proximidade com a artista. Estou amando ouvir e morrendo vontade de ler o livro novo, que segundo ouvi no podcast, trata de temas bem mais abrangentes e universais do que a autobiografia lançada em 2016.
Estou concentrada em terminar de ver Dickinson antes que minha assinatura promocional do Apple TV+ acabe, então praticamente parei com outras séries. Pelo HboMax, assisti O acontecimento, uma adaptação do livro de mesmo nome da ganhadora do Nobel Annie Ernaux, em que a autora relata como fez um aborto em sua juventude quando o procedimento ainda era ilegal na França. O filme é bem angustiante, porém muito bom. Descobri que um monte de filmes que eu quero assistir - e outros que eu nem sabia que queria, mas imediatamente entraram na listinha - serão removidos do Hbo Max e estou tentando fazer uma maratona. Vi Antes do amanhecer porque um dos filmes da trilogia vai sair do streaming e me apaixonei completamente.
Hoje eu fico por aqui.
Um abraço,
Lethycia
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