Me dá uma biografia de artista morto - Uma mulher que escreve #68
Minha paixão por biografias de artistias e o fascínio que nós temos por aqueles que já se foram.
Olá, pessoas que leem!
Nos últimos dias, andei pensando muito na paixão que tenho por biografias, especialmente de artistas, nas mais diversas mídias. Pode ser livro, filme de ficção, documentário, podcast, vídeo no YouTube… Eu amo esse tipo de conteúdo! Lembro que um dos primeiros filmes que assisti na Netflix, quando eu ainda era uma nova assinante (lá pra 2016), foi Frida, a biografia de Frida Khalo. Mais ou menos na mesma época, assisti também Renoir, sobre o pintor francês, e li Olga, a biografia de Olga Benário escrita por Fernando Morais. Esse foi um dos primeiros livros de não ficção que eu li e abriu a porta para muitos mais.
Antes dele, porém, eu já tinha comprado uma biografia da Maysa - aquela, cujo mundo caiu - só porque encontrei o livro em um sebo e me lembrei de quando a Globo exibiu a minissérie sobre ela, quando eu ainda era criança, e fiquei tão interessada naquela mulher com delineado tão estiloso, mas não consegui assistir porque não conseguia ficar acordada até tarde pra ver.
Como eu acumulo livros com mais rapidez do que leio, tenho uma facilidade maior de conhecer as vidas de pessoas famosas ou anônimas pelo audiovisual. Com o passar dos anos, assisti tantos filmes e séries biográficos que cheguei a uma definição bem precisa do “meu tipo” de filme:
Eu já tweetei muitas frases parecidas com essa.
Comecei a pensar nisso porque na terça-feira da última semana (09 de maio), pouco antes de meio-dia, eu estava encerrando as minhas atividades online da manhã e troquei de aba no navegador só pra “dar uma olhadinha” no Twitter, quando descobri que Rita Lee havia morrido. Minha primeira reação foi duvidar, e em seguida, me afundar em uma melancolia que nos últimos tempos, venho sentindo com frequência cada vez maior.
Cresci sabendo que meus ídolos estavam mortos; alguns deles, antes mesmo de eu nascer. Cheguei à casa dos 20 e poucos anos e descobri que a minha outra categoria de ídolos - a daqueles que eu acreditava serem eternos - um dia também se encontraria com a morte.
Ainda me lembro do meu choque com a morte do Chorão, 10 anos atrás, e da tristeza retroativa que tive depois de passar a ouvir Michael Jackson e Amy Winehouse, já falecidos, e de ouvir sobre suas vidas em podcasts.
Num período de alguns anos, eu, que ingenuamente achava que as pessoas que eu admirava estariam sempre “lá”, passei a me preocupar em ver seus shows antes que partissem. E, desde que comecei a pensar nisso, quantos deles já se foram antes que eu pudesse apreciar sua arte de perto! Elza, Gal, Erasmo… Rita. O livro físico da autobiografia dela (a versão antiga) está há anos na minha lista de desejados da Amazon, e o e-book, há um pouco menos de tempo disponível no meu Kindle. Ainda não lido.
É engraçado o quanto ficamos fascinados em saber sobre a vida de quem admiramos. Pelo menos, alguns de nós. Tem gente que se contenta em ler os livros, ouvir a música, e só. Tem gente que acampa em saguão de aeroporto, entra em filas quilométricas, segue em todas as redes sociais, cria fã-clube, coleciona foto. Lembram da menina que imprimia os stories de Demi Lovato? Não vejo mal em amar demais alguém pela sua arte, desde que esse amor não te faça mal nem faça mal a outras pessoas.
Mas o que eu acho particularmente curioso é como a gente se interessa pelas vidas dos que já se foram. Quando a pessoa não acaba esquecida pelo tempo, é claro, e mesmo depois de décadas, ainda gente ainda discute o que ela quis dizer com certo verso num poema, por que nunca se casou, por que se sentia tão atormentada pela vida a ponto de se afundar nas drogas. Uma coisa que me atormenta é pensar em quantos artistas geniais morreram cedo demais porque simplesmente não conseguiam viver em paz consigo mesmos.
As vidas de alguns são inimaginavelmente documentadas. De outros, o que se sabe é tão pouco que até para produzir ficção sobre eles, é necessário imaginar. Nas últimas semanas, estou assistindo à série Dickinson no Apple TV+, uma biografia BEM ficcional da poeta estadunidense Emily Dickinson, e estou fascinada por ela! Quando digo “bem ficcional”, entendam: ela tem conversas com a Morte, um homem negro que a busca em casa numa carruagem puxada por cavalos fantasmagóricos. Num desses encontros, a Morte lhe diz que em 200 anos, ela será a única de sua família cujo nome será lembrado. É uma série bem fora da casinha pra uma ficção de época, e meu episódio favorito, até agora, foi um da primeira temporada em que a família Dickinson recebe Louisa May Alcott (a autora de Mulherzinhas, que tem a ideia para sua obra prima ali mesmo, na mesa de jantar), e elas conversam sobre escrita e publicação. Emily, que se ressente da postura do pai contrária a mulheres escrevendo, fica abismada conhecendo uma autora publicada.
Eu não sabia quase nada sobre a vida dessa querida antes de começar a assistir, além do fato de que foi poeta. Eu tinha a vaga lembrança de um dia ter lido um conto sobre a morte de uma escritora solitária que talvez fosse ela, e nem tinha vontade de ler seus livros. Nunca fui muito fã dos autores clássicos estadunidenses, exceto por Edgar Allan Poe. Comecei a assistir a série porque há personagens sáficas - Emily e sua amiga de infância e cunhada, Sue, são apaixonadas - e de repente, eu a amo! E não me importo se os 30 minutos de cada episódio são pura ficção: pra mim, já é canon!
E por falar em escrita…
O bicho da escrita me mordeu mesmo! Desde a semana passada, acordei às 6 horas da manhã para escrever quase todos os dias, e com isso, hoje concluí o roteiro do meu haters to lovers universitário. Como eu contei na edição passada, estou muito empolgada com essa e outras ideias que vêm brotando ou amadurecendo na minha mente.
Com medo de perder o furor das minhas universitárias briguentas, eu queria aproveitar cada imagem, cada frase que elas projetavam na minha cabeça, pra beber até a última gota dessa fonte criativa que começou a jorrar daqui de dentro. Eu não sei quanto tempo vai durar, então estou aproveitando!
O plano, a partir de amanhã, é voltar a fazer o curso de escrita e em breve começar a reescrever o meu romance.
Uma noite mais do que especial
Na noite da última quarta-feira (10), vivi algo que eu nunca imaginava. Numa Sessão Especial da Câmara Municipal de Goiânia, eu e várias outras pessoas - entre elas, escritoras que conheço e admiro e produtores culturais locais - fomos homenageadas por trabalhar incentivando a leitura.
Fui indicada para isso por Maria Clara Dunck, mediadora do Leia Mulheres de Goiânia, que integra a equipe da vereadora Aava Santiago, que organizou a sessão. Aava ficou conhecida nacionalmente no ano passado como a “evangélica pop” que apoiou Lula durante as eleições. Eu acompanho o trabalho dela há um tempão e nunca tinha imaginado ser notada nem por ela e nem por qualquer instituição oficial da cidade onde vivo.
A sessão estava marcada para as 17h e aconteceu no Plenário da Câmara. Algumas pessoas foram nomeadas para compor a mesa por participar de insituições importantes ou fazer trabalhos relevantes na área da escrita, leitura e literatura em Goiânia. Houve discursos e em seguida, os homenageados foram chamados em ordem alfabética para receber seus diplomas de Honra ao Mérito. Crianças de várias idades, os filhos e filhas de pessoas convidadas para estar ali, corriam e brincavam pelo sação. Numa mesa no canto, livros foram expostos. Meus dois únicos exemplares físicos de Elas Falam Por Si, da versão que defendi como TCC, estavam lá.
Fiquei muito emocionada. Eu sempre procurei me aproximar dos livros e de outras pessoas que também amavam a literatura. Fiz isso sendo uma jovem pobre, sem contatos, moradora de um bairro de periferia tão pequeno que ninguém conhece, exceto quem mora nos infames bairros vizinhos. Uma pessoa que nunca pisaria ali, no plenário de uma casa legislativa. Num palco, sendo fotografada ao lado de uma parlamentar. Com reconhecimento institucional.
Durante parte da minha adolescência, as pessoas na escola riam de mim por gostar de ler, e na semana passada, recebi uma homenagem pelo trabalho que fiz por causa disso!
Veja mais fotos no post do meu Instagram.
Dois pedidos
Príncipe Partido é o segundo volume de uma duologia de fantasia sombria escrita por Arthur Malvavisco. A duologia Senhores e Sombra e Prata é ambientada em um mundo fictício hostil e contém bastante mistério, romance e protagonismo LTGBQIAP+. O livro está em financiamento coletivo pelo Catarse e eu, que apoiei desde o primeiro dia de campanha, quero muito que esse livro seja publicado!
Restam 9 dias de campanha e ainda falta bastante para que a meta de financiamento coletivo seja atingida. Deixo aqui a recomendação desse livro para que você também apoie, e se não tiver lido o primeiro volume, algumas das opções de apoio incluem os dois livros como recompensa - tanto no formato físico quanto no formato e-book! Conheça o livro e a duologia e apoie a campanha aqui.
Entre amanhã (18) e o dia 22 de maio, a Amazon realizará a Book Friday, uma promoção exclusiva para leitores. Durante esse período, dá pra esperar por cupons de desconto, Ofertas Relâmpago - daquelas que os livros ficam bem baratos e com estoque pequeno, esgotando rápido - e muito e-book barato! Eu acompanho esses eventos promocionais há alguns anos e garanto: mesmo podendo gastar pouco, eu nunca saio sem comprar pelo menos alguns e-books, porque vale a pena.
Aproveito esse aviso para lembrar de que os pagamentos que recebo da Amazon, tanto de vendas e leituras dos meus livros quanto de comissões em vendas de outros produtos, estão complementando a minha renda e que qualquer coisa comprada a partir dos links que eu compartilho me ajuda a continuar escrevendo e pagando as contas. Então, se você puder e quiser comprar qualquer coisa durante a Book Friday, eu peço que use os meus links pra isso.
Aliás, sabia que pelo Kindle Unlimited você consegue ler e-books sem precisar comprar? São milhões de livros disponíveis pra você pegar emprestado, e o programa está em oferta: 3 meses de assinatura por apenas R$ 1,99! Se você não gostar, dá pra cancelar quando quiser! Por enquanto, oficialmente, a promoção só está disponível para assinantes novos, mas vale a pena tentar porque algumas contas antigas já estão conseguindo aproveitar. Use este link para assinar.
Li, ouvi e assisti
Retomei minha leitura de Os pilares da terra e comecei a ler Noite e dia, de Virginia Woolf, e O corpo dela e outras farras, de Carmen Maria Machado. Este último é um livro de contos que me impressionou desde a primeira história. Os enredos são bem inusitados, mas escritos de um jeito que cria toda uma atmosfera de história de terror, embora não sejam histórias de terror. Uma mulher contando sua vida sexual e amorosa com o marido e o crescimento do filho; uma mulher listando as pessoas com quem tem contato durante uma epidemia misteriosa; mulheres que começam a ficar translúcidas, até perderem seus corpos e se prenderem a objetos; uma mulher que sente uma presença estranha em casa após fazer uma cirurgia bariátrica… São algumas das histórias que li e gostei até agora, e o melhor: com protagonismo sáfico. As narradoras dessas histórias falam de relacionamentos e de sexo sem papas na língua, hablando mesmo, e fazia tempo que eu não via isso!
Comecei a ouvir o podcast Rádio Novelo Apresenta e dois episódios me marcaram: num deles, fiquei horrorizada com uma história sobre mitomania e uma pessoa que se aproveitou ao máximo de uma amizade. No outro, me encantei com a família que tem décadas de sua história obsessivamente documentada em cadernos, quase sempre escritos à mão. Ouça pelos links.
Também recomendo dois episódios de Os 12 Trabalhos do Escritor. No primeiro, Eric Novello fala sobre horror latinoamericano, e no segundo, Anna Martino, AJ Oliveira e Thiago Lee falam de inteligência artificial, Chat GPT e se essa tecnologia pode ser usada para escrever.
Nos últimos dias, assisti a dois filmes que recomendo muito: Eles não usam black-tie (1981) acompanha a efervescência de um movimento operário grevista em pleno período da ditadura e como uma família é impactada pela divergência se opiniões sobre a greve. Está disponível no Globoplay. Evita (1996) é um musical biográfico sobre Eva Perón, que foi atriz e primeira-dama da Argentina de 1946 a 1952 - eu não disse que amo biografias? - e amei o ritmo, a intensidade das músicas e o fato de ter o Antonio Banderas cantando e sendo gostoso. Está no Star+.
Eu fico por aqui.
Um abraço,
Lethycia
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Dickinson é a melhor série dos últimos anos. Eu não tinha nenhuma experiência como leitor de poesia mas terminei a série tão apaixonado que comprei o primeiro volume das obras completas da Emily em edição bilíngue. Estou lendo vem devagarinho, mas adorando a experiência.