O orgulho de estar fora da norma - Uma mulher que escreve #69
É muito fácil se orgulhar de ser “normal”. Difícil mesmo é quando você é um dos degenerados que a sociedade prefere exterminar para não ofender os olhos dos cidadãos de bem.
Vou começar a news de hoje contando uma história:
Anos atrás, quando o Facebook ainda era um lugar legal e eu estava começando a aprender sobre questões sociais, um antigo colega do Ensino Médio compartilhou um post que me fez revirar os olhos para a tela do computador. Era uma imagem com fundo branco preenchido por frases que diziam mais ou menos isso: “Eu tenho orgulho de ser homem. Eu tenho orgulho de ser hétero. Eu tenho orgulho de ser branco. Eu tenho orgulho de ser cristão”, e blá blá blá. Essa baboseira despeitada das pessoas que sempre estiveram na norma e que se incomodam porque aqueles que elas chamam de outros agora não se envergonham mais de quem são.
Pensei: “que idiota!” e desfiz amizade na mesma hora. Eu nem conversava mais com aquele garoto. Não precisava ficar vendo na internet as bobagens que ele pensava. Mas só depois de alguns anos é que fui entender por que aquele post era tão ridículo. Não que eu ficasse pensando demais nisso. Na verdade, por anos, nem me lembrei desse pequeno incidente. Mas desde então, eu continuo vendo pessoas declarando na internet o mesmo “orgulho” daquele meu colega de escola e parecendo tão patéticas quanto ele. E tive tempo de pensar a respeito.
É fácil sentir orgulho de si mesmo quando você está nos grupos respeitados pela hierarquia social. Quando você é neto ou bisneto de italianos ou alemães e sabe traçar a árvore genealógica da sua família. Quando o seu sobrenome não indica que os seus ancestrais foram uma posse de outra família. É fácil se orgulhar dos seus traços físicos se você não passou a vida inteira ouvindo que seu cabelo é duro, feio, ruim. É fácil se orgulhar da sua religião quando ela é predominante no país e se infiltra até mesmo nas leis. Quando o seu templo religioso não é atacado e destruído e você não sofre agressões físicas e verbais ao usar roupas características. É fácil se orgulhar da sua orientação sexual quando ela é a norma. Se você não cresceu ouvindo ofensas, sendo alvo de piadas e recebendo ameaças e agressões só por dar pinta. É muito fácil se orgulhar de ser “normal”. Difícil mesmo é quando você é um dos degenerados que a sociedade prefere exterminar para não ofender os olhos dos cidadãos de bem.
Eu entendi isso quando me entendi bissexual. De repente, passei a sentir medo de todas as violências que já sabia que pessoas LGBTQIAP+ sofrem, as coisas que meus amigos sofriam. Medo de ser rejeitada, rechaçada, odiada por algo que não podia mudar em mim. E ao mesmo tempo, passei a sentir uma vontade imensa de declarar quem eu era, ainda que a mensagem estivesse codificada e só pudesse ser entendida por algumas pessoas.
Foi nessa tentativa que comprei um botton estampado com um arco-íris e o prendi na alça da minha mochila que levava para a universidade. Comprei meias compridas estampadas com a bandeira LGBT, que eu usava escondidas por baixo da calça. Mantive uma camiseta que dizia “Com orgulho” escondida no guarda-roupa por anos, até que foi seguro passar a usá-la dentro de casa. Enchi minha estante de livros LGBT. Escrevi histórias sobre garotas que amavam garotas. Eu precisava dizer ao mundo que eu era assim mesmo, fora da norma, que gostava de ser assim e não me envergonhava disso. Ainda sinto medo, mas nunca tive vergonha.
Esse processo de colecionar símbolos de forma clandestina até o momento em que postei nas redes sociais uma foto com a bandeira bissexual pintada no rosto me fez entender a importância das Paradas LGBT, embora eu nunca tenha participado de uma. Fico imaginando a força e a coragem de quem participou das primeiras, enfrentando os olhares de julgamento do mundo. Hoje, décadas depois, não é muito diferente. Ainda é necessária muita coragem para se expor com um alvo nas costas. E é por isso que as Paradas e qualquer manifestação da nossa parte incomodam tanto os conservadores: eles nos querem encolhidos de medo e nós dizemos NÃO.
Assim fica fácil entender por que ir à Parada da própria cidade ou de alguma outra acaba sendo um marco na vida de muitas pessoas da comunidade LGBTQIAP+. E foi pensando nisso que eu e mais seis autoras decidimos escrever um livro ambientado na Parada LGBT de São Paulo, em que nossas protagonistas, todas elas mulheres sáficas, vivem momentos de emoção, orgulho e romance. Que saber mais sobre isso? Então continua lendo!
De todas as paradas do mundo
Éramos sete autoras sáficas com vontade de nos ver melhor representadas na literatura e proporcionar a mesma sensação às nossas leitoras. Foi pensando nisso que decidimos escrever um livro de contos com protagonismo exclusivamente sáfico e escolhemos a Parada LGBT de São Paulo como cenário devido à sua importância e visibilidade. Como catalisador, criamos as RebuMinas, uma girlband brasileira formada por ex-estudantes da USP que se tornaram um fenômeno e serão uma das principais atrações do evento.
É o show delas que motiva nossas personagens, vindas de São Paulo ou não, a se dirigir até a Avenida Paulista numa manhã de domingo para celebrar a própria sexualidade, ouvir a música de que gostam e viver seus amores. Cada conto é protagonizado por uma mulher bissexual, lésbica ou pansexual com personalidade, origem e objetivo diferente. Seus caminhos se cruzam de formas inesperadas ou não em histórias que alternam entre momentos românticos, divertidos e sensuais. Em De todas as paradas do mundo, você encontra múltiplas vivências de mulheres que se relacionam com mulheres em histórias interligadas na maior Parada LGBT do Brasil.
Nossa capa será revelada amanhã (01 de junho), a partir de um quebra-cabeça nos stories do perfil do livro no Instagram, e nos stories das autoras. Se quiser participar da brincadeira ou simplesmente esperar até que a imagem esteja completa, você pode nos acompanhar pelo perfil @/todasasparadas. Tanto o meu Instagram quanto os das minhas colegas de antologia estão disponíveis na bio. Nossa pré-venda será iniciada na sexta-feira (02 de junho), e a sinopse revelada no mesmo dia. Mandarei uma edição-extra no dia com todas as informações e o link de venda.
As novas
Na última edição, contei que tinha terminado de escrever o roteiro do meu haters to lovers universitário. Com isso, voltei a fazer as aulas do curso de escrita que tinha comprado em dezembro, e na segunda-feira dessa semana (29), cheguei ao fim do módulo 2. Isso me obrigava a fazer uma última edição no meu roteiro e enviá-lo para análise do professor. Foi o que fiz com os dois roteiros que produzi, e hoje por volta das oito horas da manhã, fechei os olhos e apertei o botão de enviar do Gmail, com os dois arquivos como anexo. Estou tentando não surtar enquanto espero pela resposta. Acho que minha psicóloga vai ficar orgulhosa.
Daqui pra frente, devo continuar com as aulas e em breve recomeçar a escrita do meu romance. Aquele que venho tentando concluir desde 2021. Depois eu embarco na novelinha das universitárias briguentas.
Do dia 18 ao dia 22, me concentrei em divulgar o máximo possível de livros baratos que encontrei durante a Book Friday, e preciso agradecer. Meu relatório do programa de Associados apresentou valores maiores do que eu esperava, e com isso, vou ter um respiro em agosto - sim, a Amazon paga com dois meses de retroatividade: eu só recebo no fim de julho pelo que vendi em maio, tanto no KDP quanto no Associados. Não é o suficiente pra pagar todas as contas, mas é bem melhor do que a minha perspectiva anterior, que era nada. Também recebi um valor legal essa semana referente às vendas de março, então estou mais tranquila para encarar junho.
Passei os últimos meses com uma reserva de emergência, e até então, os pagamentos da Amazon estavam completamentando o meu dinheiro de pagar das contas. A partir do mês que vem, eles serão quase toda a minha renda, então estou contando muito com a ajuda de quem me acompanha. Usar meus links afiliados em compras da Amazon ou comprar e ler meus livros me ajuda muito. Se está lendo pelo Substack, você pode me ajudar clicando aqui.
Foi por isso que comecei a vender alguns dos meus livros usados, e eu não sei onde estava com a cabeça duas semanas atrás, porque não lembrei de avisar aqui sobre isso. São livros com gêneros, público-alvo e estados de conservação diferentes. Entre eles, uma edição antiga em capa dura de Os trabalhadores do mar e três livros do Clube Intrínsecos ainda no plástico.
Os preços vão de R$ 10,00 a R$ 25,00 e você pode conferir a lista completa nesse post do meu Facebook. Para consultar os valores dos fretes ou comprar, você pode entrar em contato comigo por mensagem no Facebook mesmo ou no meu Twitter ou enviar um e-mail para lethyciadiascontato@gmail.com.
Vem aí!
Além do lançamento, estive ocupada nos últimos dias produzindo meu próprio site. Já fazia tempo que eu queria um, não só me mostrar de forma mais profissional, mas também para poder reunir todas as informações a respeito do meu trabalho sem que elas se percam nos feeds e formatos de redes sociais. Resolvi aproveitar o lançamento que se aproxima para fazer isso, já transformando a publicação nova em material informativo, e finalmente comecei a colocar minha vontade em prática.
Estou fazendo pelo Wix mesmo - a única ferramenta que eu sei utilizar - e por enquanto, não tenho domínio próprio. Espero conseguir pagar por um no futuro. Vou deixar aqui um print da página inicial como spoiler, e garanto que ta ficando lindo!
Assim que estiver pronto, eu trago o link aqui!
Li, ouvi e assisti
Continuo lendo Os pilares da terra e Noite e dia. Terminei de ler O corpo dela e outras farras e, como pesquisa para meu haters to lovers, li Aquela que eu (não) quero, de Isabela Vieira, uma novela com o mesmo tropo romântico. As personagens são colegas de escola que fazem parte de um grupo de teatro e há anos implicam uma com a outra, especialmente competindo para ser a melhor atriz e conseguir os papéis principais nas peças do colégio. É uma história deliciosa que não só usa muito bem o tropo como também me deixou com vontade de assistir Grease outra vez. São só 100 páginas e tem no Kindle Unlimited.
Agora, além das duas leituras já citadas acima, estou lendo também O desenterro, de Duca Andrade. Conta a história de um peão de fazenda que recebe do fantasma do bisavô instruções para encontrar e resgatar um grande tesouro. Esse livro foi recomendado de forma muito empolgada pelo Arthur Malvavisco no episódio do podcast Entre Sumários sobre a Região Centro-Oeste, no qual também fui convidada, e parece ser baseado em lendas do Mato Grosso do Sul. Tô bem curiosa.
Nas últimas duas semanas, andei ouvindo o maravilhoso All The Way… A Decade Of Song, da Céline Dion, e a playlist Guilty Pleasures, que de guilty não tem nada porque eu gosto da maior parte das músicas dos anos 2000 que fazem parte dela e não me sinto nem um pouco culpada por isso. E falando em anos 2000, graças a uma edição antiga da newsletter do Júnior Bueno, a Cinco ou seis coisinhas, hoje passei o dia ouvindo uma playlist de funk melody, com músicas que tocavam em todo lugar quando eu era criança.
O podcast da Rádio Novello Apresenta me deixou passada com a história da primeira mulher repórter no Brasil, o Entre Sumários fez uma discussão importatíssima sobre a remuneração de escritores no Brasil e nossa terrível falta de profissionalismo e união enquanto categoria trabalhadora. Já o 30:MIN me deixou maravilhada entrevistando a mulher que passou anos lendo um livro de cada país do mundo.
Assisti ao encantador Miss França (2020), uma comédia dramática sobre Alexandra, uma jovem mulher trans que está descobrindo a própria identidade de gênero, e decide relizar o sonho de infância de ser uma miss. Está disponível no Globoplay. Pelo Hbo Max, assisti ao clássico Doutor Jivago, que eu já tinha visto uns dez anos atrás, mas não me lembrava de quase nada. Esse era o filme favorito da minha falecida amiga Lara, que dizia ter recebido o próprio nome por causa dessa história. Gostei tanto que agora quero ler o livro.
Por hoje é isso.
Um abraço,
Lethycia
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Que incrível essa edição! Me identifiquei um bocado, sendo gay e o sabendo desde pequeno. Uma vida de violências e orgulhos. Beijos!